domingo, 27 de novembro de 2011

Delinquência assusta latino-americanos

Para a população de 11 de 18 países da América Latina e América Central, a delinquência, com 28% dos apontamentos, é o principal problema da região. Três de cada cinco venezuelanos (61%) assim o entendem, seguidos pelos costarricenses, com 45%. 

Em três países – Nicarágua, com 33%, República Dominicana, com 27%, e Bolívia, com 19% - o desemprego desponta como primeiro problema a ser enfrentado. No Chile, o principal problema é a educação, com 27% das indicações, e no Brasil é a saúde, com 26%.

O desemprego também aparece como o problema mais importante para paraguaios e colombianos, segundo levantamento realizado este ano pela ONG Latinobarômetro.

O Latinobarômetro ouviu 20,2 mil latino-americanos, em 18 países, de 15 de julho a 16 de agosto, com mostras que podem ter uma margem de erro de 3% por país. O Latinobarômetro tem sede em Santiago do Chile.


Fonte ALC (25.11.2011).

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Negras e negros na Bíblia?

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Os evangelhos sinóticos são unânimes em afirmar que um certo Simão de Cirene ajudou Jesus a carregar a cruz, a caminho do Calvário (Mt 27.32; Mc 15.21; Lc 23, 26). Ora, Cirene fica no norte da África, mas alguma vez você ouviu em prédica ou sermão, na catequese, na escola dominical ou no ensino confirmatório, que um africano ajudou Jesus a carregar a cruz? Estudiosos dirão que se trata de um judeu da diáspora, visto que no norte da África havia várias colônias judaicas. Mas com que argumentos ou intenções fazem esta escolha na interpretação?

Por contrariar os interesses da corte de Jerusalém, pouco antes da destruição da cidade pelas tropas babilônicas, o profeta Jeremias foi preso e lançado numa cisterna. Um africano, funcionário do rei (seu nome, Ebed-Melec, significa "ministro do rei"), liderou um movimento para libertar Jeremias (Jr 38,1-13). Quantas vezes você se lembra de ter estudado este texto, dando atenção a este "detalhe"?

Moisés, conta-nos Nm 12, casou-se com uma africana, da região de Cush - Etiópia. Na verdade, quase toda a historia do êxodo se passa na África. Uma simples leitura do Canto de Miriã (Ex 15,19-21), com certeza um dos textos mais antigos de toda a Bíblia, nos permite notar a proximidade da cena com a rica cultura dos povos negros: canto e dança ao redor dos tambores. Você já parou para pensar nisso?

O missionário Filipe, ao "aceitar a carona" na carruagem do negro e alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, tem uma grata surpresa: o africano já tem em suas mãos o livro do profeta Isaías (At 8, 26-40). E há quem continue afirmando que os foram os europeus que levaram a Bíblia para a África!

Pois bem, os exemplos acima são suficientes para nos provocar ao desafio: olhar a Bíblia na perspectiva da negritude!

Em primeiro lugar, porque seguimos acreditando que o Deus da Bíblia faz opção pelas pessoas e pelos grupos mais marginalizados. Em nossa sociedade, as mulheres, as pessoas negras e indígenas continuam sendo as maiores vítimas da gritante exclusão social. Com elas aprendemos a resistir. Em segundo lugar, porque queremos e podemos descobrir as raízes negras do povo hebreu e de toda a Bíblia. De fato, antes de ser européia, a Bíblia é afro-asiática. Não negamos a contribuição européia ao nosso continente, queremos seguir trocando saberes com o chamado "Velho Continente". Mas denunciamos o cristianismo branco e opressor, com teologias que chegaram ao absurdo de justificar a escravidão negra (feita pelos brancos) e que continuam, muitas vezes, negando nossas raízes.

Não queremos fazer isso apenas pinçando textos bíblicos nos quais apareçam personagens africanas. Este até pode ser o primeiro passo, um exercício necessário e interessante. Mas é preciso mais do que isso, é preciso olharmos toda a Bíblia na perspectiva da negritude. Porque essa é nossa experiência, ainda que negada: vivemos num país onde metade da população é afro-descendente. "Coincidentemente", é a metade mais pobre.

Que aceitemos o desafio de mergulharmos na Bíblia e na vida com nosso olhar afro-descendente. Afinal, por muitos séculos, fizemos isso apenas com o olhar europeu. Erramos e acertamos, agora vemos que é preciso mais. Ou manteremos a opção, muito mais cômoda e bem menos questionadora para nossa sociedade preconceituosa e racista, de continuar enxergando apenas um Jesus loiro, de olhos azuis e cabelos cacheados?

Edmilson Schinelo
Extraído de Bíblia e Negritude - Pistas para uma leitura afro-descendente.
São Leopoldo: CEBI/EST, 2005.


Fonte: CEBI (20.11.2011).

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ensino religioso deve respeitar diversidade religiosa

A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE) publicou carta aberta propondo ensino religioso não-confessional, sem proselitismo e nos termos da legislação já existente. 

O posicionamento foi expresso em documento escrito em parceria com a Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER) e o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER). A divulgação do documento coincide com a reunião do ministro Carlos Ayres Brito, do Supremo Tribunal Federal (STF), com membros do Conselho Nacional de Educação (CNE).

A carta foi publicada pelo Grupo de Pesquisa Educação e Religião (GPER) (http://www.gper.com.br/?sec=informacoes&id=2397) e elenca a fundamentação legal e os objetivos, divulga as ações já realizadas e defende a tomada de atitudes por órgãos públicos como o Ministério da Educação e Cultura (MEC), o STF, a Procuradoria Geral da República (PGR), a Coordenação de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (CONSED) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME).

O documento dita a Constituição Federal e a Lei nº 9.475/97, que altera o Art. 33 da Lei de Diretrizes de Base (LDB) nº 9.394/96 para lembrar que Ensino Religioso é atividade de horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.

A atividade integra a formação básica do cidadão, assegurando o respeito à diversidade cultural religiosa, veda formas expressas ou veladas de proselitismo, contribui para o desenvolvimento do educando e prepara-o para a cidadania, valorizando conhecimentos, saberes e valores da cultura brasileira.

Enfatiza ainda que o Ensino Religioso deve atender à função social da escola, dar a conhecer elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, adotar abordagem pedagógica e reconhecer a diversidade cultural-religiosa brasileira, tendo em vista formar cidadãos críticos, responsáveis e com discernimento dos fenômenos religiosos.

A carta informa que já há centenas de sistemas estaduais e municipais de ensino que obedecem a esses parâmetros, inclusive com propostas, diretrizes curriculares e com professores habilitados em Ensino Religioso, contratados por concursos públicos.

Destaca que foram e são realizados eventos científicos, fóruns, encontros e debates, abordando a natureza epistemológica e pedagógica do Ensino Religioso, além da publicação de obras, revistas, cadernos, documentos e páginas eletrônicas que veiculam artigos, trabalhos e fatos sobre o Ensino Religioso.

Ressalta que a ANPTECRE e a SOTER já têm grupos de trabalho atuando nessa área, com participação de docentes-pesquisadores, e que já foram incluídas cinco ementas no documento final da Conferência Nacional de Educação (CONAE) para a década de 2011-2020, propondo, entre outras medidas, que o ensino público se paute na laicidade, sem privilegiar elemento particular de cada religião.

A carta aberta defende que o Ministério da Educação e Cultura publique diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Religioso, que o Conselho Nacional de Educação emita diretrizes curriculares nacionais para a formação dos professores, que o STF aceite a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) e assente que o Ensino Religioso em escolas públicas só pode ser de natureza não-confessional.


Fonte: ALC (22.11.2011).

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A humanidade carece de cronistas, diz teólogo

O que o mundo mais necessita na atualidade é de cronistas que contem sobre a irresponsabilidade, que caracteriza a globalização, disse o teólogo luterano Vitor Westhelle na mesa de abertura, sexta-feira, 18, do Seminário Comunicação, Ética e Cidadania, em São Leopoldo. 

Vitor resumiu a derrocada de Wall Street, em2008, como a irresponsabilidade de uma sociedade sem espelho retrovisor, ou, “para dizer em outras palavras, perdemos a arte da crônica, ou esta é hoje muito rara no seu sentido originário”.

Em hebraico, “crônica” significa prestar contas dos eventos do dia, das coisas reais do que sucede, definiu o teólogo. Ele lembrou que Fernão de Magalhães, que circundou o globo terrestre pela primeira vez, em 1521, também foi o primeiro navegador que passou a não enviar mais cartas-relatório à coroa espanhola, que o subsidiava, fazendo da “irresponsabilidade uma prática legítima”.

“Por que não voltam os fatos à notícia?” – indagou o teólogo. Além da irresponsabilidade, há ainda outro fator: o mundo é chato. É desconcertante ver que as notícias, a não ser as locais, são exatamente as mesmas divulgadas pelo New York Times, pelo jornal da BBC, e pela Zero Hora. “Temos de encontrar uma maneira de forçar que os fatos reais voltem ao noticiário”, afirmou Vitor, citando a escritora indiana Arundhati Roy.

O escândalo já não mais existe porque as pessoas se acostumaram com a superficialidade das coisas. “Acostumamo-nos à mera vida, não à vida em sua plenitude”, avaliou. “Sociedades que já não sabem lidar com a morte, tampouco o sabem com a vida que não seja mera vida”, disse.

Com o desencantamento do mundo, como definiu o sociólogo alemão Max Weber, já não se entende o fator religioso e seu papel em questões de vida e de morte. A concepção da vida e da morte são os momentos mais íntimos.

Na equação entre modernização e secularização, o fator religioso foi subtraído. “É preciso que isso entre na equação, a saber, de que o fator religioso não é sobre obras ou sofrimentos, não é sobre as mediações que nos acostumamos a administrar, mas sobre a intimidade que nos une à vida na sua concepção e à morte na sua consumação”, assinalou Vitor.

O Ocidente, agregou, perdeu em vasta medida a capacidade de entender o poder da intimidade, que é o fator religioso. “É por isso que a intimidade dá medo, pois é imediata à vida e à morte”, frisou. A instituição da religião, disse, é a forma como a civilização aprendeu a lidar com o medo e o terror que a intimidade produz. “É por isso que temos que voltar a entender a importância do rito, do culto e do mito”, sinalizou.

Na análise da professora Christa Berger, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o mundo hipermoderno é inseguro e a humanidade vive a era da desorientação. “Somos convocados a nos comportarmos como consumidores” e esse é um “imperativo da felicidade”, que se insinua no imaginário com objeto de engenharia individual.

O seminário foi promovido pelo curso de Jornalismo da Unisinos em parceria com a Faculdades EST e apoio da Associação Mundial para a Comunicação Cristã (WACC), Instituto Humanitas, Fórum Luterano de Comunicadores, Editora Padre Reus e Editora Sinodal.


Fonte:  ALC (22.11.2011).

Ministro Ayres Brito busca subsídios no CNE sobre ensino religioso

O ministro Carlos Ayres Brito, do Supremo Tribunal Federal (STF), se reunirá com representantes do Conselho Nacional de Educação (CNE) na terça-feira, 22. O objetivo é obter esclarecimentos para relatar a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) proposta pela Procuradoria Geral da República contra o ensino religioso confessional ministrado em escolas públicas do Rio de Janeiro e do Piauí. 

A oferta de aulas sobre o tema é obrigatória nas escolas públicas, mas desde que o catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado, ao ser declarado laico pela Constituição Republicana de 1889, o conteúdo não pode professar dogmas de nenhuma religião e deve ser ministrado por professores das redes públicas.

Na prática, as escolas não seguem a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e, na falta de orientação clara e professores preparados para o ensino religioso público, oferecem ensino religioso catequético cristão, de traço católico tradicional ou evangélico pentecostal. Com presença militante desses grupos na Assembleia Legislativa e indiferença das bancadas, os alunos de famílias das demais confissões são submetidos à catequese ou privados do direito.

Diante do impasse, o CNE criou comissão para elaborar orientação nacional sobre o assunto, mas esbarra em interesses religiosos baseados na Constituição do Império, e exigindo igualdade de condições como ação afirmativa, potencializados pelas maiores emissoras de televisão, com prejuízos para a cidadania.

Esse grupo não terá representantes das religiões para evitar debates doutrinários e melhor exporem ao ministro Ayres Brito suas preocupações. A postura é agravada pelo Acordo Brasil-Vaticano, para o qual foi negociada a concessão de direitos a todas as religiões, restringindo ainda mais a situação e fazendo o Brasil retroceder à condição de Estado Religioso, que já tinha superado há 123 anos.

A ADIN, assinada pela Procuradora Geral em exercício, Deborah Duprat, defende que o STF suspenda a “eficácia de qualquer interpretação que autorize a prática do ensino religioso das escolas públicas que não se paute pelo modelo não-confessional” e não permita que representantes de qualquer religião sejam responsáveis por esse conteúdo nas escolas.

Segundo César Callegari, presidente da comissão do CNE, “estamos preocupados com os problemas que o acordo pode trazer. Devemos fazer de tudo para que a laicidade do Estado seja protegida”. Para ele, o acordo deve ser revisto porque “não se pode aceitar proselitismo no ensino religioso e esse conteúdo só pode ser dado por professores capacitados”.

O CNE tem uma proposta de orientações gerais sobre o tema quase pronta, que deverá ser apresentada à sociedade em audiência pública, a ser marcada no início do ano que vem. Sua compreensão é que a sociedade deve resolver um impasse anterior ao conflito, que diz respeito a quem deve se responsabilizar pela educação religiosa das crianças: se as Igrejas, as famílias ou as escolas.

Mas, enfatiza o conselheiro, “não está na ordem do dia a possibilidade de uma revisão do texto da Constituição Federal, que determina a oferta de ensino religioso nas escolas. O que precisamos é garantir o cumprimento do que está na lei de maneira adequada”, assim como a garantia de outras atividades aos alunos que não desejarem assistir aulas de religião.

No Rio de Janeiro, a lei municipal aprovada definiu a disciplina a ser oferecida a partir de 2012, contemplando as doutrinas católica, evangélica/protestante, afro-brasileiras, espírita, orientais, judaica e islâmica, mas ministradas por católicos e evangélicos. Quem não aceitar as aulas de ensino religioso deverá se matricular na disciplina Educação para Valores, norma que será aplicada às escolas de turno integral.

O pesquisador do tema na rede pública do Distrito Federal, Antonio Costa Neto, disse que as normas devem ser democráticas e inclusivas das minorias, já que a diversidade religiosa afro-brasileira não é contemplada nas aulas, nem na formação dos professores, fato que por si só prejudica as ações para combater o preconceito racial. Ele descobriu que a própria abordagem do tema ainda é confessional e não pedagógica.

Ao mesmo tempo, ele entende que “atuar com a disciplina ensino religioso no âmbito das relações étnico-raciais para combater o racismo é uma oportunidade muito boa de êxito. No entanto, as religiões afro-brasileiras não têm sido contempladas e os professores não recebem formação adequada”. Por isso, fez uma representação junto à Secretaria de Educação do Distrito Federal, questionando como o tema está sendo tratado nas escolas.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios também manifestou interesse no tema e já pediu explicações ao governo distrital, através da Secretaria de Educação no mês de outubro, mas ainda não obteve resposta.


Fonte: ALC (18.11.2011).

Vaticano reage à campanha da Benetton

A decisão imediata da Santa Sé de processar a Benetton por causa da foto do papa beijando o imã de Al-Azhar desperta a atenção. As fotos da campanha UNHATE da Benetton destaca a luta contra o ódio e a intolerância. Os maiores líderes mundiais foram incluídos e não anunciaram atitudes judiciais contra a empresa. 


A decisão do Vaticano de empreender ações legais contra a fotomontagem em que o papa Bento XVI beija o imã sunita Ahmed el Tayeb, anunciada pela Secretaria de Estado da Santa Sé, ampliará as condições para divulgação da campanha. A reação pode ter sido prevista pelos marqueteiros e integrada como potencializadora da peça publicitária. A primeira e, até o momento, a única reação foi baseada na ofensa e ganhou amplitude por ser uma campanha contra o ódio.
 
A campanha que inclui fotomontagens de beijos entre líderes de expressão mundial como Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, Obama e Hu Jintau, presidente da China, Nicolas Sarkozy, presidente da França, e Ângela Merkel, chanceler da Alemanha, Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, e Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel, tem a clara intenção de mostrar líderes de países e instituições religiosas em conflito de interesse, justificando a peça publicitária.
 
A intenção de retirar de circulação a campanha publicitária, já na véspera, mostra como a estratégia previu as explicações do grupo empresarial italiano. Criada a publicidade, imediatamente vista como ofensiva, anunciada a retirada da peça, feita a divulgação pelos meios de comunicação, especialmente em veículos televisivos e eletrônicos, cuja marca é o imediatismo e o alcance, foram dados quase todos os passos.
 
O último, contando com reação proporcional ao grupamento humano que julga alcançar e em nome de valores morais das quais se julga representante, foi a reação previsível e sua integração ao conjunto da campanha. A previsibilidade está associada a outras, como a condenação de filmes, livros, campanhas e obras de artes de natureza diversa, cuja reação potencializou a divulgação a despertar o interesse no contraditório, nas reações e mesmo nas reações.
 
No caso em tela, outro ingrediente que pode ter escapado à percepção publicitária e de mercado dos assessores da Santa Sé, o tema da campanha será destacado pela contradição de uma instituição religiosa por tomar atitude intempestiva, a que se acrescentam as denúncias de pedofilia, as repercussões em relação ao clero, judiciais e patrimoniais, que geraram desgastes e publicidade negativa nos últimos anos.
 
Houve até mesmo o cuidado de lembrar "que o sentido desta campanha era exclusivamente combater a cultura do ódio sob todas as formas", informou um porta-voz do grupo conhecido e premiado pela criatividade publicitária da campanha "United Colors of Benetton". A campanha foi apresentada ontem por Alessandro Benetton, vice-presidente do Benetton Group, em Paris.
 
Com as campanhas publicitárias do grupo Benetton, comandadas pelo fotógrafo Oliviero Toscani, em que estão duas personalidades religiosas ao lado de políticas, será necessário aguardar a reação do grande público. A peça foi elaborada num conjunto em que estão em jogo relações afetivas, políticas, sociais e religiosas de expressão mundial. Se houver eco expressivo de apoio à decisão pela ofensa, a campanha já terá alcançado grande percentual dos objetivos previstos. Se não, restará um discurso moralista que, mesmo divulgado, não conterá os efeitos da divulgação.
 
Os efeitos para o mundo ocidental devem ter sido avaliados, seguidos pela decisão da manutenção. No caso do mundo árabe, que envolve apenas o imã, por razões inversas, terá o mesmo efeito, por causa da imagem dos valores que costumam atribuir ao ocidente, especialmente com os desgastes gerados pelas guerras de massacres sem objetivos maiores que influência, domínio e lucro.
 
E um aprendizado longo, a duras penas e sem efeitos: a proporção da reação à ofensa dará os limites da importância atribuída. Do ataque às torres gêmeas, às publicações de wikileaks e às fotos de beijos entre lideranças políticas e religiosas. E às reações, com seus impactos.

Fonte: ALC (21.11.2011).

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Igreja ainda é instituição mais confiável na América Latina

Embora em queda, a igreja é a instituição na qual os latino-americanos mais confiam, mostra pesquisa do Latinobarômetro de 2011. Em 1996, ano da primeira medição, 76% dos latinos confiavam na igreja, índice que este ano ficou em 64%. 

Os chilenos são os mais desconfiados em relação à igreja e é no Chile onde esse índice apresenta a maior queda percentual. Em 1995, 80% dos chilenos apontaram a igreja como a instituição mais confiável. Em 2009, esse percentual caiu 13% e em 2011 apenas 38% ainda têm a igreja como digna de confiança.

Esse queda abrupta, analisa o Latinobarômetro, está relacionada com escândalos envolvendo sacerdotes em denúncias relacionadas à sexualidade. Paraguaios, com 78%, brasileiros, com 76%, bolivianos, com 74%, são os povos que mais confiam na igreja, bem acima da média regional, que é de 64%.

De modo geral, o Latinobarômetro constata uma queda generalizada da confiança de latinos em relação às instituições. A exceção são os governos, que experimentaram crescimento, de 1995 a 2011 vinculado aos processos de democratização. Em 1998, esse índice era de 28%. Em 2011, subiu para 40%.

O Latinobarômetro ouviu 20,2 mil latino-americanos, em 18 países, de 15 de julho a 16 de agosto, com mostras que podem ter uma margem de erro de 3% por país. O estudo é realizado pela Corporação Latinobarômetro, uma ONG sem fins lucrativos, com sede em Santiago do Chile.


Fonte: ALC (17.11.2011)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Brasileiros sentem-se discriminados

Gutemaltecos seguidos dos brasileiros, bolivianos, mexicanos e dominicanos são os povos que se sentem mais discriminados na América Latina e no Caribe por razões de raça. Os chilenos aparecem no outro extremo dessa estatística. 

O levantamento é do Latinobarômetro, uma ONG com sede em Santiago do Chile, que ouviu 20,2 mil pessoas em 18 países, entre 15 de julho a 16 de agosto.

Do universo ouvido, 51% dos habitantes da Guatemala, 46% dos brasileiros e 43% dos bolivianos, mexicanos e dominicanos declararam que se sentem discriminados por causa da raça. São, curiosamente, países com predominância de população indígena ou negra.

Na Guatemala, 45% da população são indígenas. Na média dos países da região, 44% declararam-se “mestiços”, o que, segundo o Latinobarômetro, não é uma raça. Em segundo lugar aparecem os brancos, com 27%, indígenas 9%, mulatos 6%.

No Brasil, segundo a ONG, 49% dos ouvidos se declararam brancos, 17% mestiços, 17% negros, 13% mulatos e 1% indígenas, arrolou a ONG Latinobarômetro, ao trabalhar os dados coletados este ano.


Fonte: ALC (16.11.2011)

MÉXICO - Enquete aponta segregacionismo em regiões do país

Enquete Nacional sobre Discriminação (Enades), divulgada nesta semana, mostrou que 15% da população entendem que os protestantes devem ser realocados em áreas especiais, afastadas de comunidades essencialmente católicas, a fim de proteger seus direitos. 

Diante de conflito religioso, opinaram mexicanos, as autoridades locais deveriam obedecer a decisão da maioria dos cidadãos, sem se deter ao direito à liberdade de culto, como estabelece a Constituição da República.

O levantamento de Enadis indicou as regiões de León, Toluca e Torreón como as mais intolerantes. Nessas áreas, 47% a 53% da população apontam a rejeição, a discriminação e a desigualdade como os principais problemas das minorias religiosas do país.

De cada 100 pessoas que pertencem a minorias religiosas, 15 vivem nas regiões de Povoa e Tlaxcala.  Nessas mesmas regiões, mais Guadalajara, pessoas deficientes têm as menores oportunidades de trabalho. Desse universo, 40% revelaram que se mantém graças ao rendimento econômico dos pais e familiares.

Enadis aponta, ainda, que em Chiapas, Guerrero e Oaxaca 41% da população indígena sentem-se prejudicados com a ausência de políticas de emprego, além da segregação que sofrem.

Jovens alegam que têm menos oportunidades de emprego no Distrito Federal, Querétaro e Povoa. Em Povoa, sete de cada dez pessoas ouvidas argumentaram que as autoridades deveriam defender os direitos dos evangélicos e protestantes de viverem em qualquer parte do Estado, já que isso é uma garantia constitucional do direito à liberdade de culto.

Enquete Nacional sobre Discriminação (Enades), divulgada nesta semana, mostrou que 15% da população entendem que os protestantes devem ser realocados em áreas especiais, afastadas de comunidades essencialmente católicas, a fim de proteger seus direitos.

Diante de conflito religioso, opinaram mexicanos, as autoridades locais deveriam obedecer a decisão da maioria dos cidadãos, sem se deter ao direito à liberdade de culto, como estabelece a Constituição da República.

O levantamento de Enadis indicou as regiões de León, Toluca e Torreón como as mais intolerantes. Nessas áreas, 47% a 53% da população apontam a rejeição, a discriminação e a desigualdade como os principais problemas das minorias religiosas do país.

De cada 100 pessoas que pertencem a minorias religiosas, 15 vivem nas regiões de Povoa e Tlaxcala.  Nessas mesmas regiões, mais Guadalajara, pessoas deficientes têm as menores oportunidades de trabalho. Desse universo, 40% revelaram que se mantém graças ao rendimento econômico dos pais e familiares.

Enadis aponta, ainda, que em Chiapas, Guerrero e Oaxaca 41% da população indígena sentem-se prejudicados com a ausência de políticas de emprego, além da segregação que sofrem.

Jovens alegam que têm menos oportunidades de emprego no Distrito Federal, Querétaro e Povoa. Em Povoa, sete de cada dez pessoas ouvidas argumentaram que as autoridades deveriam defender os direitos dos evangélicos e protestantes de viverem em qualquer parte do Estado, já que isso é uma garantia constitucional do direito à liberdade de culto.


Fonte: ALC (16.11.2011).

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Curso Religião e Patrimônio encerra com painel

O curso de extensão Religião e Patrimônio, promovido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), debateu a presença religiosa no Estado e o patrimônio artístico cultural legado. O evento, realizado onte, foi coordenado pela professora Clara Mafra. 

Realizado em três encontros, o curso reuniu líderes religiosos, teólogos, sociólogos, historiadores, museólogos e arquitetos. O objetivo era recuperar a história da presença, tornar público o levantamento do patrimônio artístico e cultural das tradições religiosas e fazer o mapeamento de roteiros turístico-religiosos no Grande Rio.

O museólogo Rafael Azevedo, do Instituto Estadual de Patrimônio Artístico e Cultural (INEPAC), falou sobre o Santuário Mariano do século XVIII. Ele doou ao programa de pesquisa o décimo tomo da obra de Frei Agostinho – específica sobre esta cidade, os relatos de monsenhor Pizarro, padre visitador das 34 freguesias da Diocese do Rio de Janeiro - a segunda brasileira - com levantamento de três mil objetos e 12 querubins de igreja catalogados.

Os dados estão catalogados no Centro de Processamento de Dados do Estado do Rio de Janeiro (PRODERJ) e pode ser acessado pelo sítio www.artesacrafluminense.rj.gov.br

O levantamento até 2009 cobre 63 cidades da região e contabiliza 100 objetos desaparecidos, que compõem o inventário dos bens procurados do acervo da sociedade fluminense. A publicação registra a metodologia usada, com destaque para o recorte temporal a partir de análises histórica, técnica e estilística do objeto. Entre as informações constam registro fotográfico, estado de conservação, análise estilística, iconográfica e ornamental, e datação.

O segundo depoimento foi da ialorixá Mãe Meninazinha de Oxum, que se referiu ao Candomblé como uma religião da natureza, cuja história local está registrada na Casa Pai João Alabá, no centro da capital, e outra localizada em Mesquita, na Baixada Fluminense, que é a primeira casa de candomblé de roça.

As duas casas reúnem objetos religiosos, desde os que foram trazidos da África até os que foram acumulados nos últimos dois séculos. Essas casas são marco da cultura religiosa negra, têm um memorial de objetos sagrados e estão abertas à visitação, com programas de geração de renda e promoção de cidadania e direitos humanos, e integra a Rede de Religiões afro-brasileiras.

O padre Vanderson Gomes, formado em Imaginária Barroca e Política de Conservação, abordou o tema pela ótica do diálogo entre as comunidades religiosas e as autoridades do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O religioso propôs uma lógica inclusiva, que preserve o patrimônio e respeite a fé comunitária, expressa na devoção diária, resumindo a preocupação arquitetônica como a relutância de construir para o futuro que o faz reconstituir o passado.

O pastor Sérgio Goulart, da Catedral Metodista do Rio de Janeiro, falou do culto como memória e da liturgia como obra assumida em favor da comunidade. O pastor lembrou que sinal é a memória do Sagrado e mencionou momentos celebrativos na tradição evangélica, especialmente a metodista. Goulart descreveu a estrutura arquitetônica da Catedral e divulgou os serviços prestados à comunidade.

Por último, o designer gráfico Gabriel Cid falou do projeto Museu Afro Digital, descrevendo as salas de exposição e mostras, as vantagens da linguagem digital como a recuperação de imagens, a disponibilização de vários tipos de arquivo e a acessibilidade, suscitando o debate sobre tempo real, bem material e produção atraente às gerações jovens.


Fonte: ALC (09.11.2011)

Altmann preside comitê especial dos 500 anos da Reforma

O comitê especial que conduzirá os preparativos da Federação Luterana Mundial (FLM) para os 500 anos da Reforma protestante, em 2017, está reunida, dias 14 e 15, em Budapeste, Hungria, sob a presidência do pastor brasileiro Walter Altmann, moderador do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).

O comitê "Lutero 2017: 500 Anos da Reforma", constituído por nove pessoas, refletirá acerca de uma estrutura que ajude a definir orientações estratégicas, temas e possíveis campos de aplicação do programa para a data histórica, oferecendo uma base ao planejamento da secretaria geral da FLM.

"Chegamos a este primeiro encontro com grande entusiasmo e expectativa acerca da tarefa que temos. Até o momento, identificamos três marcos para a abordagem da FLM em relação aos 500 anos: a Reforma Luterana hoje é algo global; queremos permanecer ecumenicamente engajados e responsáveis; e queremos explorar o que significa ser igreja sob o poder transformador do evangelho", disse o secretário-geral da FLM, reverendo Martin Junge.

Para Altmann, os eventos que cercam o aniversário de 500 anos "só serão fiéis ao espírito da Reforma se não se limitarem a festas, mas também proporcionarem uma reflexão renovada e autocrítica acerca do significado da Reforma ontem, hoje e amanhã".

Altmann disse que as celebrações e eventos planejados devem refletir a evolução da Reforma em vários contextos do globo, bem como nas relações ecumênicas das igrejas oriundas da Reforma. “O Comitê certamente terá esses desafios em sua agenda e irá incentivar eventos locais e regionais e encaminhará propostas ao Conselho da FLM", acrescentou.

O comitê "Lutero 2017" também discutirá o retorno inicial de uma pesquisa feita pela FLM este ano com o propósito de avaliar os eventos previstos nas igrejas-membro. As respostas recebidas até agora indicam que há uma grande variedade de comemorações que já está ocorrendo em todo o mundo.

Igrejas e instituições teológicas têm planos para palestras, construções de memoriais, apresentações musicais, obras de arte, livros, passeios e suvenires. Existe também planos para programas ecumênicos e eventos inter-religiosos, especialmente com as comunidades judaicas e muçulmanas, baseados no envolvimento de Lutero com essas tradições.

O comitê, que tem a tarefa de apresentar um relatório ao Conselho da FLM, em 2013, inclui três membros Diretoria da FLM: Colleen E. Cunningham (África do Sul), Bispo Dr. Tamás Fabiny (Hungria) e Bispa Susan C. Johnson (Canadá). Os demais integrantes do comitê são membros do Conselho da FLM: Warime Guti (Papua Nova Guiné), Mikka McCracken (EUA) e Rev. Dr. Bernd Oberdorfer (Alemanha), além da Rev. Dra. Christina Grenholm (Suécia) e do bispo Nicholas Tai (Hong Kong, China).


Fonte: ALC (14.11.2011).

Record entra na briga de Macedo e ataca igrejas neopentecostais

RICARDO FELTRIN
EDITOR E COLUNISTA DO F5
O programa "Domingo Espetacular", da Record, entrou ontem na "guerra" declarada por seu proprietário, Edir Macedo, às novas correntes pentecostais. O ataque foi contra as igrejas e congregações que admitem ou pregam o chamado "cair no espírito".
Trata-se de uma prática em que o pastor ou líder religioso toca o corpo do fiel, e este tem uma espécie de "desmaio", que é chamado também de "Desmaio do Espírito Santo". A prática já fora atacada diretamente por Macedo em um programa da IurdTV em setembro. Na época, o alvo foi a cantora Ana Paula Valadão, da banda gospel Diante do Trono.
Rafael Andrade/Folhapress
Edir Macedo durante culto na praia de Botafogo, rio
O bispo se referia ao encontro da banda e da vocalista com um pastor, no qual a cantora desmaiou após ter sua cabeça tocada pelo religioso. Comandada por Romualdo Panceiro, considerado por Macedo como seu herdeiro espiritual, Ana Paula virou alvo de chacota nos programas da IurdTV
A reportagem de ontem do "DE" durou cerca de 40 minutos. A Record infiltrou produtores e repórteres com câmeras escondidas em cultos. Um dos produtores da emissora foi tocado por um pastor "do desmaio" por vários minutos, mas o produtor não desmaiou. O pastor desistiu.
"Comandados por um líder religioso, os fiéis ficam imóveis, caem e se debatem, em transe, no chão; muitas vezes, todos ao mesmo tempo. O Domingo Espetacular investigou o fenômeno e entrevistou ex-fiéis, psicólogos e neurologistas", disse a locução do "Domingo Espetacular" na abertura da reportagem.
A reportagem revoltou outros líderes religiosos, inclusive aqueles que não professam da prática do "cair no espírito", como Silas Malafaia. A ira se propagou pela internet. A hashtag #vergonharecord chegou ao ranking de mais postadas (trend topics).
Diferentemente do que o bispo Macedo e a produção do programa afirmam, não são apenas evangélicos que praticam o "cair no espírito". Há padres que têm feito o mesmo em igrejas católicas.
Motivos
A pergunta é: por que Macedo iniciou a briga com outros evangélicos? Uma das hipóteses é que ele teme que essas correntes e linhas tirem ainda mais fiéis da Igreja Universal.
Bandas como Diante do Trono e outras de estilo gospel, que comandam núcleos e congregações, já vinham sendo alvo de Macedo, que as vê como ameaça ao seu "rebanho". A expansão de mais uma denominação, a do "desmaio no espírito", pode ter agravado esse temor. Daí o ataque na forma de jornalismo.

Fonte: http://f5.folha.uol.com.br/ (14.11.2011).

A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico

A parábola do taxista e a intolerância. Reflexão a partir de uma conversa no trânsito de São Paulo. A expansão da fé evangélica está mudando “o homem cordial”?


O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada...”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões.

 - Você é evangélico? – ela perguntou.
 - Sou! – ele respondeu, animado.
 - De que igreja?
 - Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve.
- Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida?
- Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá.
- Legal.
- De que religião você é?
- Eu não tenho religião. Sou ateia.
- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.
- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.
- Deus me livre!
- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.
- (riso nervoso).
- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?
- Por que as boas ações não salvam.
- Não?
- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.
- Mas eu não quero ser salva.
- Deus me livre!
- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.
- Acho que você é espírita.
- Não, já disse a você. Sou ateia.
- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.
- Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância?
- É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto...
O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.)
Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se:
- Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta.
- Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la.
Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa.


A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo. Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros.
Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro.
Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica.
É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país.
Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó.
Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova.
Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca: “Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”. Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta.
Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum.
Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende.
Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele.

Eliane Brum

In: http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/11/dura-vida-dos-ateus-em-um-brasil-cada-vez-mais-evangelico.html

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Seminário Integração Solidária dos Povos da Tríplice Fronteira

A problemática da terra, a tensão entre a igreja menonita e o povo guarani, na Argentina, e a realização de convênios entre organizações ligadas a igrejas protestantes da Argentina, Paraguai e Brasil foram algumas das questões levantadas durante o encontro "Integração Solidária dos Povos da Tríplice Fronteira: pensando uma ação conjunta para igrejas protestantes". O encontro ocorreu de 14 a 16 de oububro, na cidade de Santa Rosa del Monday, no Paraguai. Participaram do encontro representantes da Igreja Evangélica Luterana Unida (IELU), Igreja Evangélica do Rio da Prata (IERP) e da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). A FLD também esteve representada, assim como o Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA).
"A proposta foi analisar os desafios enfrentados hoje pelos grupos paraguaio e brasileiro na região do Alto Paraná, além de outras circunstâncias na provîncia de Missiones, Argentina, próprias das zonas de fronteira", afirmou Maria del Pilar Cancelo, da Oficina Conjunta de Projetos (OCP).  Ligada à IELU à (IERP), a OCP foi a promotora do evento.
Para Maria del Pilar, as tensões que existem nas fronteiras não são um conflito de nacionalidades, mas uma disputa por recursos naturais, dentro de um marco mais amplo de expansão de um modelo agroexportador. A situação é agravada pela falta de políticas para a garantia e defesa da posse da terra para pequenos agricultores, especialmente no Paraguai.
"É fundamental que, como igrejas atuantes na região, trabalhemos em conjunto. Para isso definimos uma série de tarefas estratégicas, buscando reforçar nossa parceria, em favor das populações atingidas", afirmou ela.



Fonte: CEBI (07.11.2011).