segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Igreja será mais criteriosa na seleção de candidatos ao clero

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) incentiva uma seleção mais rigorosa de candidatos ao diaconato e ao sacerdócio, valorizando a formação humano-afetiva, comunitária, espiritual e pastoral-missionária nos seminários como medida preventiva de abusos sexuais que não condizem com a vida e a missão do presbítero.

A iniciativa, destacada no documento Diretrizes Gerais para formação dos presbíteros da Igreja no Brasil, foi lembrada pela CNBB no marco do Simpósio “Para cura e renovação”, dirigido aos cerca de 100 bispos católicos e superiores religiosos de todo o mundo, reunidos na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, de 6 a 9 de fevereiro.

A CNBB entende que “não há lugar para impunidade e silêncio ou conivência para com aqueles que cometem tais atos abomináveis. Toda e qualquer vítima indefesa de ação pecaminosa de um clérigo exige atenção, proteção e acompanhamento”.

Com um orçamento de 1,6 milhão de dólares para três anos de funcionamento, a Gregoriana de Roma, em conjunto com a arquidiocese de Munique e da Universidade de Ulm, Alemanha, a Igreja Católica anunciou a instalação de um Centro de Proteção à Criança, sediado na Internet, que se dedicará à formação de padres e diáconos na luta contra abuso infantil.

O objetivo do Centro é o de promover uma cultura de vigilância em ambientes católicos, informou o diretor do novo projeto, o diácono alemão Hubert Liebhardt.

A iniciativa surgiu na Alemanha a partir da crise se abusos sexuais que abalou a Igreja Católica do país. “Dois mil e dez foi o pior e o mais amargo ano da minha vida", disse o cardeal Reinhart Marx, de Munique. "A percepção da extensão dos abusos sexuais e dos maus-tratos às crianças na Igreja chocou profundamente muitas pessoas no mundo, e isso me chocou", declarou.

Fonte: ALC (27.02.2012)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Hóstia alucinógena faz beatas atacarem padre na Itália




Algumas fiéis da Santo Espírito de Campobasso, na região central da Itália, abraçaram o crucifixo, outras começaram a ter visões de santos. Outras, por sua vez, começaram a bater no padre e gritar: "Você é o demônio".

Toda essa confusão no último domingo (19) aconteceu porque as hóstias foram feitas com uma farinha alucinógena em vez da farinha comum. Trata-se de um caso de "ergotismo", uma intoxicação alimentar causada por farinhas de cereais contaminadas por esclerócios que atingem a safra do grão.

Esses organismos microscópicos contêm uma grande quantidade de fungos, perigosos para a saúde, entre os quais costumam encontrar-se muitos agentes psicotrópicos, parecidos com o ácido lisérgico, ou LSD.

Assustado, o padre da Igreja de Campobasso foi obrigado a se esconder na sacristia à espera da polícia. A retirada dos fiéis foi confusa, lembrando os protestos antiglobalização ocorridos na cúpula do G-8.

Fonte: Yahoo Notícias (24.02.2012)

Carta a Corintios inspira tema da SOUC 2012

Ampliar imagem


A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, tradicional evento ecumênico do calendário das igrejas no mundo inteiro, irá acontecer no período de 20 a 27 de maio de 2012. O tema deste ano é "Todos seremos transformados pela vitória de nosso Senhor Jesus Cristo" (1Cor 15,51-58).

Durante esta semana, milhares de comunidades e congregações realizam celebrações ecumênicas, tendo como base os textos e as orações publicados no caderno da Semana de Oração. No Brasil, a tradução, publicação e distribuição do material é de responsabilidade do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs - CONIC.

O texto nos fala, da ressurreição vivida por Jesus e apresentada como meta final de todos nós. A busca da unidade não é algo para a vida eterna no céu, mas deve ser buscada em nossa caminhada terrena. Ao proclamar a ressurreição, o texto nos diz que, se seguimos aquele que venceu a morte, toda vitória é possível, por maiores que pareçam as dificuldades.


Cristãos unidos trabalharão pela vitória da vida em situações que parecem vitória das forças da morte: injustiça, desunião, violência, rancor. A vitória, aqui mesmo neste mundo, antes da transformação do fim da história, se dará através do serviço, da ajuda mútua, da promoção da auto estima de todos, da fraternidade entre as Igrejas que se unem para socorrer os necessitados. São caminhos e instrumentos dessa vitória: o espírito de serviço, a espera paciente no Senhor quando algo parecer difícil, a valorização do sofrimento de Cristo como sinal do amor invencível de Deus, o desejo de vencer o mal com um bem maior.
Origem dos textos
O texto original das celebrações da Semana de Oração foi elaborado um grupo de trabalho composto por representantes da Igreja Católica Romana, da Igreja Ortodoxa e dos Antigos Católicos e Igrejas protestantes em atividade na Polônia. A história da Polônia tem sido marcada por uma série de derrotas e vitórias. Podemos mencionar as muitas vezes em que a Polônia foi invadida, as divisões de território, a opressão por poderes estrangeiros e sistemas hostis. A constante luta para superar toda escravidão e o desejo de liberdade são características da história polonesa que têm levado a significativas mudanças na vida nacional.
E ainda onde há vitória há também perdedores que não compartilham da alegria e do triunfo dos vitoriosos. Essa particular história nacional polonesa levou o grupo ecumênico que escreveu o material deste ano a refletir mais profundamente sobre o que significa "vencer" e "perder", especialmente considerando o modo como a linguagem de "vitória" é tão freqüentemente entendida em termos de triunfalismo.
Material - como obter?
Todo o material da Semana de Oração é disponibilizado pelo CONIC. O caderno de orações e celebrações está sendo oferecido ao preço de R$ 2,00 a e o cartaz a R$ 1,00. Os pedidos devem ser feitos diretamente ao CONIC pelo fone: (61) 3321-4034, pelo e-mail conic.brasil@terra.com.br  ou no site www.conic.org.br.

Fonte: CEBI (21.02.2012)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A reforma protestante e o direito à resistência

Martinho Lutero fala perante o Imperador Carlos V na Dieta de Worms, em abril 1521, antes de ser considerado herege pela Igreja Católica por causa dos .... Foto: Getty Images

Desde o começo da Reforma Religiosa, com a exposição das 95 teses de Martim Lutero, em Wittemberg, Saxônia, em 31 de outubro de 1517, as lideranças protestantes enfatizaram sua obediência às autoridades instituídas, isto é, aos príncipes e ao Imperador do Sacro Império Romano-Germano (no caso, Carlos V). Imaginavam, tanto Lutero como Calvino, promover uma mudança teológica e eclesial em que nada alterasse a ordem política em que viviam. Queriam, até então, que a Teologia ficasse distante da Política, ocupando postos bem separados. Naqueles inícios, ainda se apoiavam na Teoria da Obediência Passiva herdada dos primórdios do Cristianismo.

Veja o texto completo em: <http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/noticias/0,,OI5616820-EI16741,00-A+reforma+protestante+e+o+direito+a+resistencia.html>.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Por que estudar religião?

"Acho que a chamada "neutralidade" em estudos da religião não passa de um preconceito contra a fé religiosa, porque em ciências humanas a neutralidade não é um pressuposto universalmente cobrado em todos os campos de pesquisa", escreve Luiz Felipe Pondé, professor de Filosofia, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 20-02-2012.
Segundo Pondé, "acho mais interessante ir logo a questões mais pragmáticas e perguntar: "Por que as pessoas querem estudar religião em vez de simplesmente viver suas religiões em seus templos e fé cotidiana?"
Eis o artigo.
Você estuda religião? Aposto que, se sua resposta for "sim", a causa é uma das hipóteses abaixo. Somos previsíveis como ratos de laboratórios.

Estudar religião cientificamente seria estudá-la sem fins religiosos, ou seja, "de modo objetivo": via neurologia, sociologia, antropologia, psicologia, história, filosofia.

Trocando em miúdos, estudar religião cientificamente é estudá-la sem fins "lucrativos" para a própria fé do estudioso. Neste sentido, o melhor seria um ateu estudar Deus ou um cristão estudar budismo, porque assim não "lucrariam" com seus objetos de estudo.

Duvido profundamente deste pressuposto. Não porque seja impossível em si nem porque neutralidade em ciência seja algo absurdo. Trabalhar com ciência não é fruto de amor ao conhecimento, mas sim um modo de ganhar a vida muitas vezes menos competitivo do que o mercado de profissionais autônomos ou das grandes corporações.

Julgo esse problema da neutralidade do conhecimento científico tão improdutivo quanto se perguntar como faziam os últimos medievais, se Deus poderia criar uma pedra que Ele mesmo não poderia carregar - já que Ele seria onipotente e, portanto, poderia criar qualquer coisa. Mas, sendo Ele onipotente, como poderia existir uma pedra que Ele mesmo não poderia carregar?

Como você vê, trata-se de uma pergunta "podre" no sentido de ser simples perda de tempo. Um beco sem saída.

Acho que a chamada "neutralidade" em estudos da religião não passa de um preconceito contra a fé religiosa, porque em ciências humanas a neutralidade não é um pressuposto universalmente cobrado em todos os campos de pesquisa.

Por exemplo, quando mulheres estudam "opressão feminina", não estariam elas sob suspeita, uma vez que são mulheres e, portanto, suspeitas em "lucrar" com os ganhos do próprio estudo? Ou, quando gays estudam "opressão contra os gays", não estariam eles também sob suspeita, na medida em que eles, gays, também "lucrariam" com o estudo de seu próprio caso?

Ou mesmo ateus estudando Deus não estariam sob suspeita de quererem desconstruir a fé a fim de desvalorizá-la?

Por isso acho mais interessante ir logo a questões mais pragmáticas e perguntar: "Por que as pessoas querem estudar religião em vez de simplesmente viver suas religiões em seus templos e fé cotidiana?".

Proponho as seguintes hipóteses.

1. Pessoas buscam a universidade ou instituições afins para estudar religião porque têm inquietações "espirituais", mas se acham "cultas e bem (in)formadas" e estão um tanto de saco cheio das "igrejas" (no sentido de religiões institucionais) que existem no mercado. Ou mesmo porque sentem vergonha de serem religiosas "oficialmente" e, por isso, preferem estudar religião a praticar religião.

2. Porque odeiam religião por conta de traumas infantis familiares ou escolares ou por algum grande sofrimento que gerou algum tipo de "revolta contra Deus". Normalmente essas pessoas querem acabar com a religião.

3. Razões ideológicas: religião aliena (marxistas), oprime mulheres e gays, condena o sexo. Ou seja: querem um mundo sem religião ou com religiões simpáticas a suas ideologias.

4. Para abrir uma igreja, ganhar dinheiro ou poder político.

5. Para tornar sua vivência religiosa mais "culta e bem informada" e "modernizar" sua vida religiosa cotidiana, como em questões relacionadas à ciência ou à ética.

6. Por diletantismo sofisticado movido por inquietações existenciais e/ou filosóficas.

7. Porque pertenceram ao clero de alguma religião e só sabem ganhar a vida com temas relacionados à religião.

8. Para usar o conhecimento em recursos humanos nas empresas.

9. Geopolítica internacional: fundamentalismos, multiculturalismos, comércio exterior.

10. Porque é professor e o ensino religioso é um mercado em expansão, além de que, se for egresso de classes sociais inferiores (o que é muito comum), títulos acadêmicos costumam ser uma ferramenta razoável de status e aumento na renda.

Resumo da ópera: dinheiro, status, angústia existencial, fé, política, opção profissional à mão ou simplesmente falta de opção.

Fonte: CEBI (20.02.2012)

A religião está realmente sob ameaça?

Pessoas com fé dizem que o secularismo se tornou uma força agressiva e intolerante na Grã-Bretanha. O que deu errado? Ele deveria unir a sociedade.

A reportagem é de Julian Baggini, publicada no jornal The Guardian, 14-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Um fantasma ronda a Europa - o fantasma do secularismo. Todos os poderes da velha Europa entraram em uma sagrada aliança para exorcizar esse fantasma: o papa, os políticos tanto do partido Conservador quanto Trabalhista, Melanie Phillips [jornalista e escritora britânica]...

Parece estranho pedir emprestadas as palavras de abertura do Manifesto Comunista Marx e Engels para descrever o secularismo e achá-los muito apropriadas. Para alguém como eu, que sempre viu o ideal secularista como o legado mais benigno do Iluminismo, é um pouco como descobrir que o seu ursinho de pelúcia está sendo retratado como um urso feroz e arrasador.

Mas não há dúvida de que o secularismo é cada vez mais visto como uma ameaça à liberdade em vez do seu mais vigoroso defensor. A presidente do Partido Conservador, Lady Warsi, foi a última pessoa a soar o alarme, falando do seu "medo" de que "a secularização militante está tomando conta das nossas sociedades". Ela não faz rodeios ao afirmar que, "em sua essência e em seus instintos, ele é profundamente intolerante" e "demonstra traços semelhantes aos regimes totalitários".

Praticamente a mesma mensagem veio de David Lammy, do Partido Trabalhista, no programa Friday's Any Questions?, da Radio 4, quando atacou "um secularismo agressivo que está afogando a capacidade das pessoas de fé de viver com essa fé".

Warsi está levando essa mensagem ao papa, o que é um pouco como levar pizza para Nápoles. Na visita do pontífice ao Reino Unido em 2010, ele também protestou contra "formas agressivas de secularismo", comparando-as aos males do nazismo e afirmando que "a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública leva, finalmente, a uma visão truncada do ser humano e da sociedade".

Outros clérigos o seguiram. O líder da Igreja Católica na Escócia, cardeal Keith O'Brien, usou seu último sermão de Páscoa para condenar o "secularismo agressivo" que tenta "destruir a nossa herança e cultura cristãs e tirar Deus da praça pública".

E a lista daqueles que disseram coisas semelhantes é interminável. Mas quanto as pessoas estão aterrorizadas com isso? O secularismo é realmente uma ameaça, ou ele simplesmente tem sido distorcido por seus críticos, seus defensores ou ambos?

Para responder a isso, poderíamos fazer pior do que começar com os supostos exemplos mais recentes da terrível perseguição dos cristãos do país: a decisão da Suprema Corte na última sexta-feira de que as orações não fazem parte legítima de um conselho empresarial formal. A isso se seguiu a manutenção da sentença do Tribunal de Recurso contra dois donos de pousada cristãos, Peter e Hazelmary Bull, que afirmava que eles eram culpados de discriminação por não permitir que casais gays ficassem em quartos duplos.

O alarmista antissecular vê ambas as decisões como um indicativo dos tempos, quando, como Warsi afirma, "sinais religiosos não podem ser expostos ou usados em edifícios governamentais; quando os Estados não financiam escolas religiosas; e onde a religião é posta de lado, marginalizada e rebaixada na esfera pública".

É difícil levar a sério a ideia de que disso representa uma ameaça mortal à religião na vida pública. Eu só posso afirmar que o cristianismo sempre se fortaleceu na perseguição, e ele está forçando um pouco demais ao se retratar como se estivesse debaixo de uma chuva de cassetetes novamente, quando, na verdade, em grande parte, ele está sendo apenas ignorado.

No entanto, a outra extremidade da linguagem - as comparações com o nazismo e o modo em que tais afirmações estão cada vez mais vistas como verdades autoevidentes - nos diz que algo deu errado com o secularismo na Grã-Bretanha. E o problema, eu acho, é que ele perdeu a sua alma secular. O secularismo, no sentido político, não é um projeto abrangente para varrer a religião completamente para fora da vida pública. Nem é uma celebração da ciência sem Deus, como o plano mal concebido de Alain de Botton para a construção de um "templo para ateus" de 46 metros na cidade de Londres. Ao contrário, ele é - ou deveria ser - uma forma maravilhosamente simples de aproximar as pessoas de todas as fés ou de nenhuma, não um meio de opô-las.

Neutralidade

Tudo remonta a como entendemos o princípio secularista fundamental da neutralidade na praça pública. A neutralidade significa exatamente isto: não se posicionar nem a favor nem contra a religião ou qualquer outra visão abrangente de mundo. É por isso que, em teoria, senão na prática, os Estados Unidos é tanto culturalmente o país mais religioso do Ocidente desenvolvido, quanto, constitucionalmente, o mais secular. Lá, compreende-se claramente que o valor do secularismo é que ele permite que todas as fés sejam praticadas livremente, sem que nenhuma delas desfrute de um lugar especial no coração do poder. Isso explica porque, quando eu participei uma vez de um painel de discussões com um Batista do Sul, uma das denominações mais conservadoras, ele estava tão entusiasmado com o secularismo quanto eu.

Por que, então, na Grã-Bretanha, o secularismo passou a ser visto como hostil à religião? Porque muitas vezes assume-se que a neutralidade exige a dissolução de todos os vestígios da fé, excluindo a crença o discurso religiosos da vida pública. Mas isso não acontece, e nós podemos ver por que pelo apelo à noção de razão pública articulado mais claramente pelo falecido filósofo político John Rawls. Rawls era bastante claro de que os religiosos não têm nenhuma obrigação de manter a sua fé inteiramente para si mesmos. "Doutrinas abrangentes e razoáveis, religiosas ou não religiosas, podem ser introduzidas na discussão política pública a qualquer momento", escreveu ele, "desde que, em seu devido momento, apresentem-se razões políticas adequadas - e não razões dadas apenas por doutrinas abrangentes - que sejam suficientes para defender o que quer que seja que as doutrinas abrangentes dizem defender".

A linguagem certamente tem uma aridez jurisprudencial, mas a mensagem é bastante clara. Quando entramos na praça pública, somos obrigados a falar uns com os outros em termos que podemos compartilhar e compreender, e não de formas que estejam vinculadas às nossas "doutrinas abrangentes" específicas. Se estivermos debatendo a ética do aborto, por exemplo, não chegaremos a lugar algum se alguns insistirem que seus pontos de vista repousam sobre sua fé católica, enquanto outros inexoravelmente tiram os seus do seu ateísmo. O que todos nós precisamos fazer é fornecer razões que tenham algo a oferecer para as outras pessoas em sua qualidade de concidadãos, independentemente de suas visões de mundo. Isso não significa negar ou mesmo encobrir o fato de que temos motivações religiosas ou outras para acreditar naquilo que acreditamos. É simplesmente reconhecer que não podemos esperar que eles carreguem qualquer peso com os outros.

Por que então o evidente melindre sobre falar de religião na vida pública? A resposta curta é que nós simplesmente não estamos acostumados com isso. O mais impressionante da observação de Alastair Campbell, em 2003, de que "nós não nos ocupamos de Deus" foi que, até então, era absolutamente preciso dizer isso. Quase ninguém se ocupava de Deus em público. O discurso público refletia o fato de que a fé de muitos é, como David Cameron descreveu, "um pouco como pegar a rádio Magia FM em Chilterns: ela meio que vai e vem". Ou como uma pesquisa da BBC concluiu, o maior grupo na Grã-Bretanha são os de "fé vaga". Assim, a religião era ocasionalmente vista e raramente ouvida, e essa era assim que as pessoas gostavam.

O fim do silêncio educado

As coisas mudaram por várias razões. Vários dos chamados novos ateus dizem que o 11 de setembro os motivou a levantar o silêncio educado que cercava a religião e lançar seus ataques. O Islã mudou a agenda e, com ela, a religião em geral. Mas agora que a fé está a céu aberto não parecemos saber o que fazer com ela. O despertar de uma seriedade religiosa que parecia estar em um estado vegetativo permanente perturbou os secularistas que talvez estavam então muito preocupados para sedá-la novamente. Mas, como os romanos aprenderam, quanto mais um grupo se sente perseguido, mais forte, e não fraco, ele fica. Eles também são estimulados pelas simpatias daqueles de fé vaga, que muitas vezes veem os semelhantes a Richard Dawkins como pestes furiosas, mesquinhas e agressivas.

Uma das causas disso foi, creio eu, um clássico erro racionalista. É verdade que não há nada de justo ou democrático com relação a ter deselegido bispos anglicanos na Câmara dos Lordes. Não há nenhuma razão para que a religião tenha um espaço protegido chamado Thought for the Day [Pensamento do Dia] no meio do principal programa de notícias da emissora nacional. Uma reunião de conselho não é lugar para orações. Mas todas essas anomalias existem porque a Grã-Bretanha tem uma história enraizada na Cristandade. Onde a tradição voa em face à razão e à justiça, ela deve ser desmantelada. Mas quando ela simplesmente as importuna, muitas vezes é melhor permitir a passagem do tempo para que corroa essas reminiscências anacrônicas do que tentar demoli-las. A maioria das pessoas, ao contrário, parece gostar dessas heranças estranhas ou são indiferentes a elas. Por isso, quando elas se transformam em locais totêmicos de batalha, o público em geral olha perplexo.

Mas o erro central é simplesmente perder de vista o fato de que o secularismo realmente é um princípio muito específico acerca do funcionamento das instituições públicas e políticas. Enquanto elas operam sem conceder privilégios a nenhuma visão de mundo particularmente abrangente, o secularismo não tem nada a dizer sobre quanto o resto da sociedade e do discurso público deveria ser religioso.

Para defender os ideais secularistas, portanto, nós precisamos renová-los. A neutralidade do Estado deve ser ferozmente defendida quando se trata de legislação e de instituições-chave. Mas, assim como com aquilo que acontece além desse núcleo, os secularistas deveriam estar mais relaxados. E se devemos nos queixar, precisamos fazê-lo seletiva e proporcionalmente. Deseleger bispos na Câmara dos Lordes é indefensável, e devemos nos posicionar firme e persistentemente contra isso. Mas tentar usar a Lei dos Direitos Humanos para frear as orações em uma reunião atinge muitos, mesmo aqueles simpáticos à causa, como um exagero. E debater ano após ano sobre o Thought for the Day parece mais uma obsessão do que uma busca de justiça.

O que eu estou defendendo é, em parte, pragmático, mas o seu núcleo é inteiramente baseado em princípios. Permitir a livre expressão e discussão da religião é tanto um princípio inegociável do secularismo, quanto a manutenção da neutralidade das instituições centrais da sociedade civil. Pode ser injusto criticar os secularistas por serem "militantes" ou "agressivos", mas muitas vezes somos desajeitados e desastrados. Se o secularismo passou a ser visto como o inimigo do religioso quando deveria ser seu melhor amigo, então nós, secularistas, devemos compartilhar ao menos uma parte da culpa.

Fonte: CEBI (20.02.2012)

Saúde será tema da Campanha da Fraternidade 2012

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lança hoje, Quarta-Feira de Cinzas, a Campanha da Fraternidade 2012, que destaca o tema “Fraternidade e Saúde Pública”, e o lema “Que a saúde se difunda sobre a terra”. O objetivo da Campanha é refletir sobre o cenário da saúde no país, chamando a atenção para a precarização das condições dos hospitais e postos de saúde.

A Campanha ganhou, na semana passada, um “reforço” inesperado. O governo anunciou um corte de 55 bilhões de reais no orçamento da União aprovado para 2012, com o intuito de garantir um superávit primário no final do ano. A área social foi uma das mais atingidas. O Ministério da Saúde perdeu 5,5 bilhões de reais de seu orçamento.

Na sua 49ª edição, a Campanha da Fraternidade tem o propósito de despertar a solidariedade das pessoas em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos e apontando soluções. A primeira Campanha da Fraternidade no Brasil foi realizada em dezembro de 1963, sob influência do Concílio Vaticano II.

Um dos proponentes da Campanha foi o então administrador Apostólico da Arquidiocese de Natal, dom Eugênio de Araújo Sales. A iniciativa foi adotada, então, por 19 dioceses do Regional Nordeste 2 da CNBB (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte) e na Quaresma de 1964 foi realizada a primeira Campanha em âmbito nacional. 

Em 2000, ela teve a sua primeira edição em caráter ecumênico, promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, repetida em outras duas edições.

A partir de uma análise dos temas abordados a cada ano, a história da Campanha da Fraternidade pode ser dividida em três fases distintas: de 1964 a 1972, os temas refletem um olhar voltado para a renovação interna da Igreja. De 1973 a 1984, aparece na Campanha a preocupação da Igreja com a realidade social do povo brasileiro, sem deixar de lado a questão política nacional, que vivia uma de suas mais terríveis fases: a ditadura militar. A terceira fase, a partir de 1985, reflete situações existenciais dos brasileiros.

Fonte: ALC (22.02.2012)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Comissão de Ensino Religioso vai orientar Escolas Públicas

Callegari disse que o documento será embasado na legislação brasileira - sem opinar sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 4.439, impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF) em fevereiro de 2010, que indaga se o ensino público pode ser confessional, se representantes das confissões podem ser pagos pelo Estado e se não-religiosos devem ser submetidos a esta formação em escolas públicas.

Segundo a Constituição Federal, a matrícula para as aulas de ensino religioso é facultativa; e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o caráter do Estado é laico nas instituições de ensino. A Adin 4.439 questiona se o Acordo entre Brasil e Vaticano, assinado em 2010, será válido – até porque para ser aprovado precisou ser estendido a todas as religiões - e por admitir a prática de proselitismo.

Especialistas e acadêmicos criticam até mesmo o recurso ao acordo para legislar sobre o ensino religioso das instituições públicas, porque o Estado é laico desde a Constituição de 1890, razão pela qual o ensino religioso nas escolas públicas fere a legislação brasileira.
 
Sobre a tramitação da Adin 4.439 que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Carlos Ayres Britto, disse a membros da comissão de ensino religioso que pretende apresentar até março seu voto. Até o momento, o voto do ministro não consta do andamento dos processos do STF, que retomou as atividades no dia 1º.
 
Levantamento preliminar da Secretaria de Educação de Roraima revela a presença de proselitismo no ensino religioso em muitas escolas públicas. Conforme o órgão, na maioria de dez estados já pesquisados, as aulas de religião são ministradas por representantes de igrejas que defendem apenas uma religião, quando deveriam adotar essa disciplina no currículo escolar como uma área do conhecimento.

Fonte: ALC (09.02.2012)

Abusos sexuais do clero: Igreja Católica promete mudança

O Simpósio "Rumo à cura e à renovação", sobre os abusos sexuais cometidos pelo clero católico, organizado pela Pontifícia Universidade Gregoriana, com o amplo apoio do Vaticano, representa "uma virada copernicana" da Igreja, afirma o jornal espanhol El País, em editorial traduzido pelo Portal Uol, 11-02-2012.


Eis o texto:


Não são fáceis as mudanças em uma organização sólida e próspera com mais de 20 séculos de antiguidade, cuja diretoria é formada por um conselho de anciãos e cujo chefe máximo - na terra - só precisa prestar contas a Deus de suas decisões infalíveis. Talvez só assim se possa explicar a reação tardia e hesitante da Igreja Católica diante dos milhares de abusos contra menores cometidos por clérigos em todo o mundo. E talvez só assim se possa entender até que ponto o simpósio sobre essa questão, organizado pelo Vaticano e encerrado na quinta-feira (9) em Roma, representou uma virada copernicana em sua política.


Não só porque pela primeira vez - ao vivo, com luzes e taquígrafos - representantes de 110 conferências episcopais e superiores de 30 ordens tenham escutado de viva voz o testemunho de uma de "suas" vítimas, senão também porque a mensagem, rubricada com o selo papal, é nítida e contundente: "As vítimas são nossa prioridade. Os padres, ao juiz".


A Igreja pode estar calada há décadas - inclusive com um silêncio cúmplice -, mas quando fala o faz medindo muito bem a mensagem, os tempos, a cenografia. Desde segunda-feira até quinta, Roma foi a sede de um simpósio milimetricamente organizado pelo Vaticano através da Pontifícia Universidade Gregoriana, para lançar uma mensagem muito clara ao mundo cristão, resumida em três reflexões do papa e uma quarta pronunciada pelo bispo Charles Scicluna, promotor de justiça do Vaticano.


As frases de Bento XVI são: "A pederastia é uma tragédia. As vítimas têm de ser nossa preocupação prioritária. A Igreja precisa de uma profunda renovação". A quarta reflexão, do bispo Scicluna, é a consequência lógica das três anteriores e representa de fato um grande salto à frente: "É errôneo e injusto aplicar a lei do silêncio diante dos casos de pedofilia. O abuso sexual de menores não é só um delito canônico, mas também um delito perseguido pelo direito civil. Portanto, é essencial cooperar com as autoridades". O cardeal de Munique (Alemanha), Reinhard Marx, veio a dizer o mesmo no encerramento da cúpula, embora de outra maneira: "A legislação estatal não pode ser considerada uma ingerência nos assuntos da Igreja".


Qualquer pessoa com um mínimo de senso crítico pode responder que as avaliações antes expostas são um rosário de obviedades. É verdade. Mas são um rosário de obviedades que até há pouco tempo a Igreja tinha sepultadas sob as sete chaves dos olhos fechados, da negação, da estigmatização das vítimas, da proteção - quase criminosa - dos culpados... Ao levar em conta esses antecedentes é que o simpósio adquire valor. Não só pelo dito, senão pela forma de dizê-lo.


O encontro foi na realidade uma cerimônia em que, de forma pública, se representou o sacramento da penitência. O papa, em sua mensagem inaugural, trazia a necessária dose de arrependimento ao reconhecer a grande dívida da Igreja com as vítimas inocentes de seus pastores. Depois, os participantes conheceram o testemunho lastimável de Marie Collins, a irlandesa de 65 anos que quando tinha 13 e se encontrava só e doente em um hospital, foi agredida sexualmente por um capelão: "As mesmas mãos que abusavam de mim me davam a comunhão".


Suas palavras diante dos sacerdotes e bispos reunidos em Roma - para que ninguém mais no seio da Igreja possa dizer que nunca soube - foram dadas a conhecer imediatamente à opinião pública, em uma mensagem muito nítida de que se acabou o tempo do silêncio.


O testemunho de Collins - sua agressão, a forma como o sacerdote lhe inoculou a culpa, a estratégia da hierarquia para protegê-lo - representou de forma muito gráfica a atitude da Igreja durante décadas. Nestes dias a Igreja reconheceu diante de si e diante do mundo o mais feio de seus pecados.


A penitência imposta - mais de US$ 2 bilhões pagos em indenizações e uma névoa de suspeita que também envolve os inocentes - deverá desembocar agora em um eficaz propósito de emenda. Os participantes do simpósio, que pediram perdão publicamente às vítimas, terão de elaborar até meados de maio uma série de propostas para tentar enfrentar um problema cujas dimensões ainda não se conhecem. De fato, alguns representantes da cúria demonstraram preocupação pelo que possa estar acontecendo na Ásia ou na África, de onde praticamente não chegam denúncias.


Apesar do longo caminho a percorrer, o representante no simpósio do episcopado italiano, cardeal Lorenzo Ghizzoni, afirma que essas jornadas representaram "uma mudança de mentalidade" total: "A determinação de pôr em primeiro lugar as vítimas é uma verdadeira virada copernicana para a Igreja".


Fonte: CEBI (13.02.2012)

Ensino religioso pluralista ou confessional?

STF debaterá Ensino Religioso no Brasil

A matéria versa sobre o Brasil, um estado laico desde o fim do Império (1889), que teve sua segunda constituinte a partir deste mesmo ano e votada em 24 de fevereiro de 1891, na qual consagrou a Separação Igreja-Estado. Isso significa que o país assume plenamente  a doutrina política e legal que estabelece que governo e instituições religiosas devem ser mantidos separados e independentes. Veja:  
 
A aparente contradição não se dá entre o princípio de separação Igreja-Estado, por um lado, e ensino religioso, por outro. Até porque o Estado não imiscuir-se em questões doutrinais e a Igreja não interferir em assuntos de Estado funciona há bastante tempo e com claro respeito entre as partes nos países mais desenvolvidos do mundo. Já se a questão for conflito entre estado religioso e saber científico, especificamente orientação pedagógica, aí existem problemas de sobra, inclusive no país em que dias santificados de uma religião se tornaram feriados nacionais. 

O ensino religioso em escolas públicas também não é uma dificuldade em países com alto nível de desenvolvimento e pluralidade religiosa entre seus habitantes. A propósito, é exatamente o Estado laico o que reúne mais condições jurídicas, pedagógicas e técnicas para gabaritar esse atendimento, com independência e respeito à diferença. Como o que já vem sendo feito, seguindo a legislação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), respaldada na Constituição atual.

A tendência começa com vinheta ‘Fé na Educação’, ao suscitar dois sentidos: o da população crer na educação ministrada e o de legitimar a educação como propagadora da fé. O primeiro é legítimo e ao mesmo tempo, vigente. Já o segundo chega às raias da dúvida se igrejas e religiões têm condições de levar adiante sua pregação por conta própria, ou se precisam amparar-se no Estado. Ou, ainda mais dúbio, se é a pedagogia um saber voltado à vida em sociedade, valores morais e deveres para a cidadania, ou aos princípios de uma confissão de fé.

A menção à origem das religiões em terras brasileiras tem elementos de preconceito. Tenta associar a legitimidade da Igreja Católica pelo fato de ter sido a fé dos colonizadores portugueses. Além disso, ao referir-se a judeus e muçulmanos incluiu a frase “que vivem se enfrentando pelo mundo”, tentando desqualificar a importância e influência destes dois credos, sobretudo porque um é anterior ao cristianismo e o outro tem a mesma população e melhores índices de crescimento.

Nas escolas, a imagem da professora ensinando uma oração suscita a ideia de desrespeito à alteridade e à pluralidade, por mais bela e singela que pareça! Respeitar a criança hindu, maometana, budista ou judia não é impor-lhe a fé cristã. Nem é o melhor testemunho desta fé. Lembrem-se que Gandhi lia diariamente o Sermão da Montanha – uma série de ensinos e pregações de Jesus – mas deplorava a arrogância e violência dos soldados cristãos que dominavam seu povo. Até o modelo confessional-pluralista é contraditório. Pluralista é o que já existe na maior parte do país.

O depoimento da antropóloga Débora Diniz é basilar para a população pensar no que pode esperar do Estado laico: isenção na prestação de serviços, na elaboração de leis que assegurem o Estado de Direito e na atividade judiciária que garanta a isonomia – direito a tratamento igual – e isso deve ficar assegurado já pela via religiosa. Um perigo é vermos aqui a decisão do Supremo Tribunal da Espanha, que obrigou o Ministério da Educação a readmitir uma professora afastada do ensino religioso por ter se casado com um homem divorciado, garantindo a remuneração dos mais de 10 anos em que lutava por seu direito na justiça.

Na prática, o ensino interconfessional é o assegurado pela Constituição de 1988 e tem resultados muito bons. Veja a pesquisa já disponibilizada por especialistas (http://www.gper.com.br/). A propósito, esta é a pergunta central da Adin, redigida pela Procuradora-Geral em exercício Deborah Duprat, que explica como o Acordo Brasil-Vaticano – um documento diplomático, sem força normativa e constitucional – pode  induzir a uma filiação religiosa, situação incompatível com a atuação da escola pública.

A proposta feita em São Paulo significa um avanço, porque trabalha em base mais objetiva – o ensino de história das religiões – exige formação duplamente qualificada, respeita a diversidade e aposta que o Estado independente cria mais interlocução com seus grupos, incluídos os religiosos. E tratará a todos com a mesma deferência.

Ao mesmo tempo, levante suspeitas sobre as críticas da própria emissora ao Irã e ao regime dos aiatolás, veja como trata outros credos e os termos usados para se referir a outras manifestações religiosas. A discriminação por causa de orientação sexual, etnia, cultura e gênero não é possível, qualquer que seja a interpretação religiosa. Sobretudo em espaço público. Observar isso o ajudará a ser mais crítico e indagará os interesses em jogo na adoção de um modelo em que maioria são cristãos e que complexos de mídia se empenham para implantar em nosso país, incluídos modelos de relação com o Estado que são rejeitados em vários países.

Fonte: ALC (14.02.2012).

Enamorada, noiva, casada e demitida

Carmen quer ser pastora luterana, mas é casada com o muçulmano Monir Khan.

Carmen Häcker casou-se com o muçulmano Monir Khan, de Bangladesh, em agosto do ano passado. Em vista disso, a direção da igreja de Württemberg a suspendeu de suas atividades ministeriais e a demitiu em 31 de dezembro. 

A demissão causou comoção na Alemanha e foi recebida como um atentado à liberdade religiosa e uma atitude xenófoba. Carmen e seu relacionamento “proibido” viraram notícia na imprensa. Manchetes como “Enamorada, noiva, casada e demitida” pipocaram nas capas de jornais e revistas. Todos se indignaram que ela foi impedida de morar na casa pastoral por conta do seu amor proibido. “A moça de 28 anos precisa tomar uma decisão difícil: ou ela vai morar na casa pastoral com um marido cristão ou a porta lhe será fechada”, dizia um dos muitos artigos sobre o caso.

Um mês após o traumático cumprimento do regimento interno de acesso ao pastorado em sua igreja de origem, novas portas foram abertas para o recém-casado par da diversidade religiosa. Carmen foi assumida pela igreja de Berlim para a conclusão do seu período prático porque há outras regras para a formação pastoral na capital alemã. Em Württemberg o período prático leva o candidato ao pastorado diretamente para o ministério pastoral, o que somente é possível se o cônjuge for originário de uma igreja membro da associação cristã de igrejas. 

Já em Berlim teólogos casados com pessoas de origem confessional não ligada ao cristianismo podem tornar-se pastores, a partir da análise individual de cada caso pelo consistório. Isso é possível quando o casal une seu matrimônio segundo os ritos da igreja, os eventuais filhos sejam batizados na igreja e o cônjuge não-cristão declare estar de acordo com a atividade ministerial de seu parceiro de matrimônio.

Carmen não entende que a igreja pode rejeitar o seu vínculo matrimonial com Monir, que segundo ela é baseado no amor e, portanto, plenamente aceito por Deus. “Se Deus é amor, e isso eu aprendi no seminário, como a igreja pode rejeitar a nossa união?”, ela questiona. 

De todo modo, é uma história de carne e osso que nos ajuda a refletir o quanto nossos preconceitos podem penetrar sob a pele do dia a dia e causar estragos gigantescos. O regimento interno da igreja de Württemberg certamente não previu consequências tão dramáticas para serem administradas. E, na verdade, as leis que criamos quase nunca levam todos os riscos em conta que estão embutidos em sua formulação.

Fonte: ALC (14.02.2012)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Minissérie épica Rei Davi supera reality show

Fato que se repete há anos na época do acalorado verão carioca, a programação da televisão tem como novidade os percentuais. A Record superou a Globo de 19 a 14 pontos de audiência na medição das 23horas e 16 minutos à 0 horas e 8 minutos do dia 26 de janeiro na cidade da segunda. Já na cidade de São Paulo, os dados do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Opinião (Ibope), foram de 15 pontos percentuais para a Record e de apenas 12 para a emissora do Jardim Botânico, com menor margem, mas igualmente superiores.

Na publicidade veiculada nos jornais O Dia e Lance!, a Rede Record festejou os bons resultados da minissérie sobre o mais famoso Rei de Israel, lembrando a superação da trama narrada nos episódios da saga. A chamada evoca o ápice da narrativa épica, quando o pequeno Davi obtém expressiva vitória contra o gigante Golias.

Ao se colocar na posição do herói que supera o vilão, a Record busca explorar as vantagens da temática bíblica, especialmente para o público judaico, avançando sobre a perda de público decorrente dos escândalos do reality show, além da falta de novidades desta décima segunda edição e da continuidade do mesmo enredo, das provas às tramas baseadas em condição física, agilidade mental e tensões neurotizantes.

Fonte: ALC (02.02.2012)

CESE apóia luta conta a intolerância religiosa

"Intolerância religiosa, religião, direitos humanos".


Ato começou com seminário sobre intolerância religiosa - realizado no dia 20 no Terreiro Abassá de Ogun, no Abaeté - lembrou que a Caminhada foi criada aos (sic.) o crime praticado contra a Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos, a Mãe Gilda, fundadora do Ilê Axé Abassá de Ogum, nas imediações da Lagoa do Abaeté, bairro de Itapuã, nesta cidade. Os convidados se vestiram de branco para pedir respeito e paz entre os povos.

Uma das manifestações mais violentas do fundamentalismo é a intolerância religiosa, crescente em algumas igrejas cristãs brasileiras. Sem reconhecer o caráter laico do Estado, esses gestos desrespeitam a diversidade religiosa e a liberdade de culto, com o agravante de ser uma forma violenta de expressão de opinião.

Sua morte provocou a indignação de lideranças de diversas religiões, obrigou a abertura de processo na justiça e motivou a instituição da Caminhada no dia 21 de janeiro, que conta com a participação de pessoas de diferentes credos, etnias e gênero que clamam o respeito às diversidades e à paz.

O pastor evangélico Djalma Torres, manifestou preocupação com o problema da intolerância. “Creio, entretanto, que neste momento, a intolerância religiosa que nos preocupa ultrapassa as fronteiras do mundo cristão. Está relacionada com as religiões não-cristãs. Mais particularmente, com as religiões de matriz africana. Todos nós, das diversas igrejas cristãs, temos sido perversos, com raras e honrosas exceções, nas manifestações de intolerância religiosa com essas religiões e seus seguidores”.

A intolerância religiosa no Brasil, antes praticada exclusivamente pela Igreja Católica, agora tem “protestantes, que chegaram a partir do início do século XIX, não foram menos intolerantes com essas religiões não cristãs, com poucas exceções, volto a repetir.  Ignoraram a sua fé; desenvolveram contra elas forte preconceito; praticaram racismo sobre negros e sobre a religião de seus ancestrais; demonizaram o seu culto.   E o que é mais grave: recentemente transformaram as suas igrejas e comunidades em instrumentos de perseguição e agressão contra pessoas e casas de culto afro-brasileiras”.

A Yalorixá Jaciara Ribeiro pediu que “divulguem este ato cultural, religioso e político, a Caminhada de Combate a Intolerância Religiosa, promovendo um processo de empoderamento do evento e da data, fazendo com que a morte da nossa heroína Mãe Gilda, em combate contra a Intolerância, não se transforme em apenas mais um evento e sim em um símbolo de nossas lutas, que constrói uma agenda política importante para o povo negro brasileiro, de todas as religiões, instituições e partidos”.

Fonte: ALC (02.02.2012)