quinta-feira, 19 de julho de 2012

Aborto também deve ser tema de eleição municipal, diz CNBB

O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Leonardo Steiner, diz ser a favor de debater sobre aborto nas eleições municipais deste ano, assim como corrupção, casamento entre gays e outros temas que dizem respeito "ao direito da pessoa humana".

Matéria completa em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/poderepolitica/1122227-aborto-tambem-deve-ser-tema-de-eleicao-municipal-diz-cnbb.shtml.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Marcha para Jesus teve shows, fiéis e políticos nas ruas da capital paulista



Mais de 5 milhões de evangélicos, de acordo com os organizadores, um pouco mais de 1 milhão de pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, participaram no sábado, 14, da Marcha para Jesus em São Paulo.

Sob o lema "Reinando com Jesus", o evento organizado pela Igreja Renascer em Cristo, liderada pelo apóstolo Hernandes, começou às 10h e teve  15 carros de som e a apresentação de 34 shows musicais em palco erguido na praça Heróis da Força Expedicionária, na zona norte da capital paulista. O evento terminou por volta das 22h.

A Marcha também teve seu momento político. Participou da manifestação evangélica o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o ministro da Pesca, Marcelo Crivela, vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus. Crivela transmitiu aos evangélico o abraço da presidente da República, Dilma Rousseff.

"Os brasileiros são uma bela mistura de raças, o que faz de nós um povo global. Para evangelizar o mundo não podemos mais contar com os americanos em função das guerras. Também não podemos esperar que essa ação venha da Europa, que está vivendo sua pior crise. Só através da unidade da igreja e de uma visão política teremos tratados de cooperação e reciprocidade com os países onde o Evangelho ainda não chegou", disse Crivela.

Essa foi a vigésima edição da Marcha, que passou a integrar o calendário oficial do país graça à lei sancionada em setembro de 2009 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Fonte: ALC (16.07.2012)

Igreja indígena brasileira celebra centenário



O centenário da presença evangélica entre indígenas do Brasil será celebrado no 7. Congresso Nacional do Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas, que se reunirá de 18 a 22 de julho em Chapada dos Guimarães (a 65 km de Cuiabá).

Em 1912, os missionários estadunidenses John Hay e Henrique Whittington empreenderam viagem a cavalo, partindo de Assunção, de reconhecimento de territórios no lado brasileiro com o propósito de iniciar trabalho com indígenas.

O objetivo dos missionários era o de alcançar Bananal e Ipegue, hoje Mato Grosso do Sul, onde está instalado o Território Indígena Taunay/Ipague, entre as cidades de Aquidauana e Miranda.

Em 1913, Henrique e sua família instalaram-se no Bananal, ampliaram o trabalho entre os Terena, fundaram escolas e em 31 de dezembro de 1915 foi instalada a primeira igreja indígena evangélica do Brasil.

Hoje, a Missão Indígena Uniedas, sucessora desse trabalho missionário, congrega 34 igrejas, a maioria delas localizadas no Mato Grosso do Sul, mas também em Mato Grosso, Rondônia e São Paulo.

Na Terra Indígena Taunay vivem 4.090 pessoas. "As igrejas indígenas têm contribuído para a evangelização entre os próprios parentes", informou o secretário executivo da Missão Indígena Uniedas, pastor Ricardo Poquiviqui Terena.

Fonte: ALC (17.07.2012)

Atletas muçulmanas podem usar o chador, decide FIFA



Mesmo constando em seu regulamento a proibição a qualquer concessão política ou religiosa a atletas, a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) vai permitir que jogadoras muçulmanas joguem vestidas de véu (chador) e usem traje folgado que cubra todo o corpo, para não acentuar as curvas.

A FIFA cede, assim, à pressão da Confederação Asiática de Futebol, que representa mais de 200 milhões de muçulmanas, e que contou com o apoio de um dos vice-presidentes da Federação, o príncipe Ali ben Al-Hussein, da Jordânia, informa o jornalista Rui Martin, de Genebra.

A Federação Francesa de Futebol protestou contra a medida e decidiu manter a proibição de jogadoras muçulmanas entrarem em campo com o chador. A presidente da Liga do Direito Internacional das Mulheres, a francesa Anne Sugier, considerou a medida da FIFA uma derrota para as mulheres e uma vitória para os religiosos dos países do Golfo.

Fonte: ALC (18.07.2012)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Bispo pentecostal sugere "desintoxicação" em igrejas históricas



"Desligue-se da televisão evangélica" é a admoestação do bispo Walter McAlister, da Igreja Cristã Nova Vida, de linha pentecostal, sugerindo que fiéis façam uma "desintoxicação" dos hábitos neopentecostais frequentando templos de igrejas históricas.

Ele propõe que para a desintoxicação o crente busque uma igreja tradicional, como batistas, presbiterianos, metodistas e congregacionais, que são, na sua grande maioria, mais dedicados ao estudo das Escrituras.

"Ache uma", recomenda em seu site. "Digo isso não porque seja necessariamente a igreja que você vai frequentar pelo resto da vida. Mas encare isso como parte de sua 'desintoxicação'".

Um dos pecados de igrejas neopentecostais é "o abuso ou o abandono das Sagradas Letras", aponta o bispo. "Usam frases feitas, adesivos, chavões e uma cultura interna massacrante de autoajuda e pensamento positivo", assinala.

Ou seja, não fazem teologia. O argumento de que não precisam de teologia, só de Jesus, "é um apelo à ignorância e não acrescenta nada à nossa vida espiritual". Teologia, define McAlister, é a linguagem da Igreja, é a formação de conceitos corretos e bíblicos. "É a maneira pela qual os pensadores organizaram o conhecimento bíblico e o traduziram à prática e ao culto cristão".

O bispo explica, no site, porque não indica a sua própria igreja para a "desintoxicação": quando nesse processo, é preciso "se afastar de tudo o que pode te levar de volta ao vício. Toda e qualquer igreja pentecostal, inclusive a nossa, usa termos, jargões e conceitos que trazem ligeira semelhança com os do neopentecostalismo, mesmo que não sejamos neopentecostais".

Na França, o Conselho Nacional dos Evangélicos (CNEF) publicou documento em que classifica a teologia da prosperidade, proclamada por igrejas neopentecostais, como uma distorção da mensagem cristã, informa o jornal "La Croix".

A teologia da prosperidade, diz o documento, "instrumentaliza" Deus, colocando-o a serviço da prosperidade do fiel". Entrevistado pelo jornal, o pastor batista Thierry Huser frisou que essa teologia ignora "toda a pedagogia de Deus na nossa vida, que às vezes quer nos dar ensinamentos a partir de situações difíceis".

Fonte: ALC (12.07.2012)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Voto evangélico cresce e vem da periferia



Os resultados do último Censo demográfico mostraram o aumento de evangélicos, o que reforça o poder político que angariaram nos últimos anos. "Hoje, direita e esquerda negociam com os evangélicos", disse o cientista político César Romero Jacob, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Em Salvador, na Bahia, os evangélicos experimentaram, do Censo de 2000 para 2010, um crescimento de 61,4%, de 49,5% em São Paulo e 46,8% em Belo Horizonte. Na capital mineira, esse crescimento refletiu-se na representação política, onde, de quatro, no início do século, o número de vereadores evangélico dobrou dez anos depois.

A Câmara Municipal de Porto Alegre não tinha vereador evangélico em 2000 e passou a ter dois dez anos mais tarde. A população evangélica, "normalmente com baixo nível de escolaridade e de informação política, acaba seguindo o que o pastor recomenda", afirmou Jacob. É dos subúrbios, previu, que devem sair os vereadores evangélicos nas grandes capitais.

Em artigo para O Estado de São Paulo, o sociólogo José de Souza Martins alerta que a religião é "um fantasma" que assombra a República desde a sua proclamação. A República proclamou que assim como o Estado não se mete nos assuntos da Igreja e das religiões, as religiões não se metem nos assuntos do Estado, o que representou "um imenso avanço no Brasil", avaliou.

Mas o sociólogo constata um "progressivo recuo" em relação a esse princípio fundante do regime republicano. "O neopopulismo brasileiro descobriu nas igrejas e nas religiões um verdadeiro curral de votos cativos, de gente crédula e dócil ao apelo eleitoreiro em suposto nome da fé", analisou.  

Tudo seria compreensível, prosseguiu, num país atrasado como o Brasil não fosse o avanço da ousadia, não apenas sobre as religiões, mas agora também sobre o sagrado.

"Se as igrejas pretendiam afirmar sua identidade religiosa no plano político, mostrando força perante os candidatos e caíram na tentação do voto de cabresto, não se deram conta de que havia um preço a pagar. E o preço maior não era o voto, era a sutil invasão do sagrado pela política e pela politicagem", apontou.

Fonte: ALC (11.07.2012)

terça-feira, 10 de julho de 2012

Censo: A desafeição religiosa de jovens e adolescentes


"15 milhões de pessoas que se dizem sem religião, para mim, é o dado que desperta curiosidade", afirma o sociólogo. A "insatisfação do fiel com os serviços oferecidos pela sua igreja" é, na avaliação do sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, a primeira explicação para entender os dados do censo 2010, que demonstram um declínio no número de membros das igrejas católica, luterana, presbiteriana e metodista. Segundo ele, trata-se de "uma crise das religiões tradicionais".

Diante deste dado, Oliveira menciona que há um "problema geracional", porque na década passada havia mais católicos com idade de zero a 29 anos do que hoje. Isso significa que as "crianças e os jovens estão deixando de ser católicos". Se isso se mantiver, assegura, "no censo de 2020 a diminuição será maior ainda, porque vão morrendo os velhos, e as novas gerações estão mais afastadas" das igrejas tradicionais. Por outro lado, este dado não atinge as igrejas pentecostais, que apresentaram um crescimento de fiéis jovens e crianças. 

Na avaliação do sociólogo, outro dado interessante é o número de jovens sem religião. "Em termos de projeção, isso é algo a ser pensado. (...) 15 milhões de pessoas que se dizem sem religião, para mim, é o dado que desperta curiosidade", diz na entrevista a seguir, concedida por telefone para a IHU On-Line. E dispara: "Quando eu comecei a estudar sociologia da religião, tinha como axioma que o brasileiro é religioso, ou seja, todas as religiões são boas, todas levam a Deus, e o que não pode é não ter religião. Hoje, o caso é diferente não. O fato de ter religião não é um indicador de que a pessoa seja boa, assim como o fato de ela não ter religião não significa que ela seja má. Houve uma mudança na cultura brasileira". 

Pedro Ribeiro de Oliveira é doutor em Sociologia pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica. É professor do PPG em Ciências da Religião da PUC-Minas. Dentre suas obras, destacamos Fé e Política: fundamentos (Aparecida: Ideias & Letras, 2004), Reforçando a rede de uma Igreja missionária (São Paulo: Paulinas, 1997) e Religião e dominação de classe (Petrópolis: Vozes, 1985).

Confira a entrevista.
IHU On-Line - Os dados do censo 2010, divulgados pelo IBGE, demonstram um progressivo declínio do catolicismo no país. Como o senhor interpreta esses dados? O que isso significa?
Pedro Ribeiro de Oliveira - Esses dados não estão exatamente relacionados ao proselitismo evangélico, mas sim a uma crise das religiões tradicionais. Ainda não fiz um estudo minucioso dos dados do censo, porém pude perceber que as igrejas tradicionais - católica, luterana, presbiteriana e mesmo a metodista - perderam membros em termos absolutos e não acompanharam o crescimento da população. Uma igreja que me surpreendeu nesse sentido foi a Congregação Cristã do Brasil, que era muito sólida e tinha membros praticantes. Há aí um dado no censo que obriga certa atenção, porque várias igrejas perderam membros, inclusive a Universal do Reino de Deus.

Precisamos ter presente o dado de que a perda de membros atinge várias denominações religiosas. Claro que o proselitismo tem sua importância nesse processo, mas isso ocorre principalmente por causa da insatisfação do fiel com os serviços oferecidos pela sua igreja.
No caso da Igreja Católica, minha hipótese diz respeito ao sacramento. A Igreja Católica foi se tornando, nos últimos 40 anos, mais exigente na realização dos sacramentos. Por exemplo, não se podem batizar crianças se os pais e padrinhos não fizerem um curso, não se pode casar se os noivos não tenham feito a primeira comunhão, ou um curso de noivos - acho tudo isso muito normal. Mas as pessoas deixam de frequentar a igreja por conta das exigências.

IHU On-Line - Qual o significado de o Brasil ainda ser um país majoritariamente católico, considerando que existem os praticantes e não praticantes? 
Pedro Ribeiro de Oliveira - Muitos só consideram católicos aqueles que vão à missa e comungam. Entretanto, a tradição católica brasileira nunca foi de seguir tradicionalmente o catolicismo romano. O catolicismo popular tradicional mostra muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre. Essa frase é perfeita. Quer dizer, a tradição católica sempre teve muita devoção aos santos; era uma religião familiar. Praticava-se o catolicismo em casa, com a família, geralmente a materna, e de vez em quando se frequentava a igreja para receber os sacramentos. Quer dizer, trata-se de um católico não praticante do sacramento, mas um católico praticante da devoção aos santos. Um velho teólogo que já morreu dizia: "O padre fala da ignorância religiosa do povo, e o povo também acha que o padre é ignorante na religião, porque não sabe fazer a devoção aos santos".

Então, o catolicismo tem essa propriedade, é uma religião que comporta muita gente, e diferentes formas de ser católico, inclusive aquela dos não praticantes. De fato, o sacramento fundamental para o católico é o sacramento de entrada na vida, o batismo, e o sacramento de "saída", que é a missa de sétimo dia. Fora isso, ele se vira muito bem com os santos.

IHU On-Line - Qual é a novidade os dados do censo apontam em relação à religião no Brasil?
Pedro Ribeiro de Oliveira - Uma das novidades diz respeito à idade. Eu tive a curiosidade de sociólogo e comparei os dados de 2000 e 2010. Vi que há um problema geracional. Em 2000, havia mais católicos de zero a 29 anos, do que em 2010. Ou seja, as crianças e os jovens estão deixando de ser católicos. Então, têm mais católicos em 2010 com 30 anos ou mais. Se isso se mantiver, no censo de 2020 a diminuição será maior ainda, porque vão morrendo os velhos, e as novas gerações estão mais afastadas da instituição. É interessante porque isso atinge também o protestantismo de missão, mas não atinge as igrejas pentecostais que, ao contrário, apresentam um crescimento entre os jovens e crianças. Também não atinge os espíritas, que estão crescendo. Outro dado interessante é o crescimento de jovens entre 15 e 19 anos sem religião. As novas gerações brasileiras têm uma forma religiosa muito diferente das antigas gerações. Em termos de projeção, isso é algo a ser pensado.

IHU On-Line - Outro dado do censo é de que a Igreja Universal perdeu 10% dos fiéis. Entretanto, o crescimento das igrejas evangélicas ainda é significativo. Como avalia essa questão? A Igreja Universal tem perdido fiéis para igrejas menores, que são mais flexíveis e aceitam fiéis específicos como jovens, gays?
Pedro Ribeiro de Oliveira - Tenho a impressão de que a Universal é bem aberta e não é uma igreja rígida, mas eu não a conheço suficientemente. Por outro lado, percebe-se o crescimento enorme da Assembleia de Deus, que é um pentecostalismo clássico. Ela já era a maior igreja dos evangélicos, e hoje já tem quase 50% dos evangélicos brasileiros. 

O que também existe é essa difícil categoria de igrejas evangélicas não determinadas. O que será evangélica não determinada? Pode ser aquela interpretação da Fundação Getúlio Vargas, de evangélico não praticante, mas também pode ser essas igrejas novas que estão aparecendo por aí, e que eram conhecidas antigamente como igrejas eletrônicas. Não sei. Mas tudo indica a passagem de uma religião a outra: de católico a evangélico tradicional, ou pentecostal tradicional, depois a neopentecostal, depois a pentecostal não determinado e depois os sem religião. A trajetória parece demonstrar essa passagem. Ao que tudo indica, pelos dados de idade, isso vai continuar.
IHU On-Line - A que atribui essa desfiliação religiosa? A religião como instituição está deixando de ser significativa para parte dos brasileiros? Segundo o censo, de 7,28% em 2000 aumentou para 8% em 2010 o número de pessoas sem religião, cerca de 15 milhões.
Pedro Ribeiro de Oliveira - Penso que sim. A religião está deixando de ser significativa. 15 milhões de pessoas que se dizem sem religião, para mim, é o dado que desperta curiosidade. Quando comecei a estudar sociologia da religião, tinha como axioma que o brasileiro é religioso, ou seja, todas as religiões são boas, todas levam a Deus, e o que não pode é não ter religião. Hoje, o caso é diferente. O fato de ter religião não é um indicador de que a pessoa seja boa, assim como o fato de ela não ter religião não significa que ela seja má. Houve uma mudança na cultura brasileira. O que significa exatamente esses sem religião, eu não sei.

Gosto muito de um conceito pouco usado na sociologia, que é o de desafeição religiosa. Ou seja, a pessoa que desafeiçoa já não gosta mais de uma igreja. Quando uma pessoa se identifica no censo como católica, mesmo não praticante, ela está querendo dizer que a sua referência é aquela igreja, às vezes até por conta de uma relação afetiva com a mãe, por exemplo. Tenho impressão de que esse conceito seria central para entendermos os sem religião.
IHU On-Line - Outro dado demonstra que 64% dos pentecostais avançam em segmentos mais vulneráveis da população, nas periferias urbanas, e entre famílias que ganham até um salário mínimo, 28% recebem entre um e três salários, 42% têm ensino fundamental incompleto. A questão econômica também passa a determinar a crença, a religiosidade?
Pedro Ribeiro de Oliveira - Isso é difícil. Sem dúvida, quando se pensa que a religião tem a ver com dar um sentido para a vida, uma das grandes questões, especialmente entre os pobres, é se perguntar: "Será que Deus não gosta de mim?", ou, "Por que eu sou pobre?". Nesse sentido, o segmento pentecostal tem uma força grande em termos da difusão da crença, na nossa cultura, da existência dos demônios, ou seja, os demônios, os maus espíritos estão aí. Será que eles estão usando as religiões indígenas, religiões africanas, as religiões celtas que passaram para dentro do catolicismo? 

Então, o mundo está cheio de demônios, mas está cheio de deuses também. Por isso, para muitos é bom ter uma religião que seja capaz de expulsar os demônios, porque passam a ter uma vida melhor. Esse discurso é encontrado nas igrejas pentecostais, e isso "pega" bem para pessoas que vivem em uma situação muito difícil, para quem é plausível se dizer que esse mundo é do diabo, que nesse mundo não é bom de viver. Então, precisa-se de uma igreja capaz de "afugentar" o diabo. Essa é a minha explicação para tanto sucesso.

IHU On-Line - O senhor concorda com a crítica de Antônio Flávio Pierucci de que há uma cultura econômica e capitalista entre as igrejas? Quais são as igrejas mais expressivas nesse processo?
Pedro Ribeiro de Oliveira - Não concordo muito. Pierucci era um sociólogo muito inteligente, só que a linha dele era um pouco diferente da minha. Eu não diria que têm religiões que procuram o capitalismo, mas que há religiões que combinam melhor com a cultura capitalista. E de fato, o protestantismo, como demonstra Max Weber, combina bem com o espírito capitalista. Um grande teólogo já dizia: "O catolicismo também tentou se casar com o capitalismo, mas foi um casamento de interesse; não foi de amor". Eu gosto muito dessa expressão. O catolicismo tem essa dificuldade com o capitalismo. O catolicismo, na sua expressão mais oficial, romana, está muito mais ligado a uma sociedade do tipo medieval e que preza mais a permanência do que a mudança, a evolução e a modernização. O protestante tem uma afinidade de que é preciso mudar, é preciso transformar, é preciso ir adiante. E o católico, quanto menos mexer, melhor será. De modo que essa questão da concorrência, a questão de acumular dinheiro não combina bem com o jeito católico de ser. Combina bem com a tradição protestante, e foi muito bem retomada pelo pentecostalismo. Então, aí sim, eu concordo que há essa afinidade.

IHU On-Line - Que desafios os dados do censo apresentam para a Igreja Católica brasileira?
Pedro Ribeiro de Oliveira - Diante dos dados do censo, fiquei muito curioso, e entrei no site do Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, e vi lá uma matéria dizendo que a Igreja está viva. Isso é muito interessante. A matéria informava que aumentou o número de paróquias e o número de padres. Isso é igreja viva? A paróquia é uma instituição medieval que na Idade Média era muito boa, e também foi boa para o mundo rural. Se tivesse aumentado o número de comunidades de padres, aí tudo bem, porque teria aumentado o número de padres presente ao lado do povo. Achar que aumentar o número de paróquias é aumentar a presença da igreja no mundo é um equívoco, no meu entender, de todo tamanho. E o segundo é dizer que a igreja está viva porque aumentou o número de padres. A igreja está mais clerical, porque aumentou o número de padres, mas o número de padres não representa a vitalidade para a igreja. A vitalidade da igreja sempre foi a atividade dos leigos.

Tenho impressão de que a reação oficial da Igreja Católica, pelo menos nas matérias que pude ver, é um grande equívoco em termos sociológicos, ou seja, é ainda pensar em um modelo de igreja do Concílio de Trento. A força da Igreja, de qualquer igreja, está no que os protestantes chamam de congregar, ou seja, juntar pessoas que possam participar e sentir-se igreja. Creio que a experiência mais bem sucedida na Igreja Católica foram as Comunidades Eclesiais de Base, seguida dos grupos de oração, grupos de pastorais, que hoje chamam de novas comunidades. Esses programas buscam juntar pessoas leigas que se reúnem, celebram, leem a Bíblia para, a partir disso, influenciar no mundo. Aí está a força de uma igreja, a força pentecostal. A força pentecostal das igrejas evangélicas não é o número de pastores, mas o número de obreiros, que são pessoas leigas, que têm um entusiasmo pela religião.

Trata-se da força de expandir da igreja para o mundo. Isso quer dizer: uma igreja é forte quando tem grupos de leigos que se reúnem para atuar no mundo. Hoje o que vemos é a força de atrair para dentro, ou seja, o bom católico é aquele que está na igreja. Isso aí é o definhamento da instituição. Na hora que os responsáveis pela igreja no Brasil levarem a sério esses dados geracionais, ou seja, a desafeição religiosa de jovens e adolescentes, espero que deem um recado a essa pastoral maluca que eles têm, que gasta todos os recursos para construir seminário e formar mais padres.

IHU On-Line - Como os dados do censo em relação à religião devem se manifestar na política, considerando as próximas eleições?
Pedro Ribeiro de Oliveira - Esse é um problema, tema para outra entrevista. Mas posso dizer que os partidos políticos se desfiguraram tanto, que agora a eleição passa a ser definida por filiação religiosa, ou entidade religiosa. Muitas pessoas votam num candidato porque ele é presidente do clube de futebol para o qual torcem. Misturam esporte e religião com partidos. Isso é uma pena para a religião, mas é pior ainda para a política. Não sei se os dados do censo serão importantes nas eleições, porque eles podem ser sempre utilizados de uma maneira ou de outra. 

Essa identificação do voto político com um candidato religioso funciona em alguns casos, mas nem sempre. Por mais que o pastor diga que para sua congregação religiosa votar em tais candidatos, às vezes isso acontece, às vezes não, porque o critério religioso não determina o voto.
Fonte:CEBI (06.07.2012), com informações de IHU On-Line

Movimento pela ética promete ser voz crítica na Marcha para Jesus



Terça-feira, 10 de julho de 2012 (ALC) - Com o propósito de evitar conflitos desnecessários, como os ocorridos na última edição, o líder do Movimento pela Ética Evangélica Brasileira (MEEB) , pastor Paulo Siqueira, avisou que seu grupo vai participar da Marcha para Jesus, em São Paulo, no próximo sábado, levando cartazes e vestindo camisetas "com dizeres bíblicos que visam a despertar a Igreja brasileira para a verdade bíblica".

Na Marcha passada, denunciou o pastor, o grupo foi alvo de insultos, agressões, coerções e tiveram suas faixas "roubadas", atitudes violentas que contradizem o espírito pacífico que o evento quer assumir.

Mas, por que evangélicos eliminariam faixas de evangélicos na Marcha? "Não concordamos com algumas doutrinas em que o ensino se centraliza na satisfação dos desejos e vontade dos fiéis, ao invés da vontade de Deus; em que Deus é travestido como sendo um deus mesquinho que negocia curas, milagres e prosperidade em troca da devoção e sacrifício dos fiéis, sacrifícios esses que muitas vezes se caracterizam pela exploração financeira dos fiéis".

O MEEB critica, ainda, a manipulação política de líderes evangélicos voltados aos seus interesses particulares, e a construção de grandes templos, catedrais, "estratégias imperialistas, e manutenção da máquina eclesiástica, mas que muito pouco fazem por aqueles que precisam, esquecendo-se daqueles que a Bíblia chama de 'órfãos, viúvas e estrangeiros'".

Apresentando-se como grupo interdenominacional e de expressão nacional em carta aberta aos organizadores da Marcha para Jesus de São Paulo, o Movimento denuncia a corrupção ética e a incoerência que despontam nas pregações evangélicas entre o que é discursado e o que é praticado. "Temos a Bíblia como nossa regra de fé e prática", assinala.

A Igreja de Jesus está acuada, aponta a carta do MEEB, que quer persuadir cristãos a refletirem sobre suas ações, intenções, doutrina e comportamento.  Nos cartazes da Marcha para Jesus o grupo pedia “Voltemos ao evangelho puro e simples” e O $how tem que parar”.

Fonte: ALC (10.07.2012)

domingo, 8 de julho de 2012

Censo mostra crescimento evangélico



Evangélicos foram, dentre as religiões presentes no Brasil, os que mais cresceram numericamente de 2000 a 2010. De acordo com o Censo Demográfico, eles somam 42,3 milhões do total de 190,7 milhões de habitantes. Mas dois de cada três brasileiros continuam católicos.

O crescimento evangélico é uma constante de 1980, quando representavam 6,6% da população do país, a 2010, somando 22,2% do total. Na última década, passaram de 26,2 milhões para 42,3 milhões. Os pentecostais constituem o maior grupo, com 25,3 milhões de fiéis.

As igrejas evangélicas de missão reúnem, segundo o Censo 2010, 7,6 milhões de fiéis. Nesse grupo, despontam os batistas, com 3,7 milhões, seguidos dos adventistas, com 1,5 milhão. Abaixo de um milhão de fiéis aparecem luteranos, presbiterianos e metodistas.

Luteranos, com 999,4 mil seguidores, ainda é a mais rural, ou paroquial, das denominações. Desse total, um terço vive em áreas rurais, quando, do conjunto das igrejas evangélicas, essa proporção é de 37,8 milhões vivendo em cidades e 4,4 milhões no campo.

Das igrejas pentecostais, quem congrega o maior número de fiéis é a Igreja Assembleia de Deus, com 12,3 milhões, seguida da Universal do Reino de Deus, com 1,87 milhão, e a Igreja Evangélica Quadrangular, com 1,80 milhão. O censo aglutina 5,2 milhões em outras igrejas de origem pentecostal.

A proporção de católicos seguiu a tendência observada nas duas últimas décadas, que continua majoritária, com 123, 2 milhões de seguidores, ou 64,6% da população brasileira. No censo de 2000, esse percentual era de 73,6%.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), organismo responsável pela contagem, assinala que a Igreja Católica vem perdendo adeptos desde o primeiro Censo, realizado em 1872. Até 1970, essa perda foi mínima, de 7,9 pontos percentuais.

A pesquisa indica, ainda, o crescimento dos espíritas e dos sem religião, embora esses num ritmo muito menor do registrado na década anterior. O Brasil contabilizava 14,5 milhões de sem religião, 615 mil ateus, 3,8 milhões de espíritas, 407,3 mil seguidores da umbanda e 167,3 mil do candomblé em 2010.

No Censo anterior, os espíritas somavam 2,3 milhões de pessoas, ou 1,3% da população total, e em 2010 chegaram a 3,8 milhões de pessoas, ou 2% do total de brasileiros.

Em 2000, os sem religião eram quase 12,5 milhões - 7,3% da população - e, junto com ateus, ultrapassaram os 15 milhões de pessoas, ou 8% da população.

Fonte: ALC (02.07.2012)

Censo apresenta falhas na classificação das religiões, aponta Altmann



O Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acerta no atacado, mas erra no varejo, disse o moderador do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), pastor luterano Walter Altmann, ao analisar os números divulgados sobre a população religiosa do Brasil.

Altmann foi um dos debatedores, hoje, do programa Polêmica, da Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, que perguntou se o crescimento dos evangélicos deve-se à conquista de espaços entre a população brasileira ou à diminuição do número de católicos.

O Censo não sabe indicar se luteranos cresceram, ficaram estáveis ou diminuíram sua membresia na última década. O processo censitário considerou três grandes grupos de evangélicos: os de missão, os de origem pentecostal e os não determinados. Dos 42,2 milhões de evangélicos brasileiros, 9,2 milhões são indeterminados, classificação que nem o IBGE consegue definir com precisão. Nesses indeterminados podem aparecer luteranos, metodistas, presbiterianos, evangélicos, protestantes.

O padre Irineu Rabuske disse que os dados agora divulgados pelo IBGE sobre o Censo de 2010 não surpreenderam a Igreja Católica, que desde o primeiro processo censitário brasileiro, realizado em 1872, para os demais vê diminuir o número de fiéis.

Rabuske lembrou que ser católico no século XIX era quase que compulsório, pois a Igreja Católica era quase que a única denominação presente no país. Mas muitos não passavam de católicos nominais, disse. Que tipo de acompanhamento espiritual recebia o fiel de Uruguaiana, na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina e o Uruguai, que via um padre vindo da capital, montado em lombo de burro, percorrendo uma distância de 700 Km de tempos em tempos? - indagou.

O pastor Eliezer Morais, da Assembleia de Deus, comentou fatores que levam a denominação a registrar um dos maiores índices de crescimento numérico no país. "Proclamamos o que herdamos da Reforma - a salvação somente pela graça, fé e escrituras - não clericalizamos a liturgia, trabalhamos com simplicidade, envolvidos com a realidade do povo brasileiro e fazemos com que os fiéis leiam a Bíblia", disse, em resumo.

Altmann destacou que o Brasil continua um país extremamente religioso e que esses movimentos que o Censo aponta, de crescimento de pentecostais, diminuição de católicos, dá-se entre denominações da cristandade.

O advogado e jornalista Milton Rubens Medran Moreira, do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, afirmou no Polêmica que o espiritismo entra no item das religiões do Censo assim como Pilatos entrou para o Credo Apostólico. Para ele, o espiritismo não é uma religião, mas uma filosofia. Com 3,8 milhões de seguidores, o Brasil é o país mais espírita do mundo, informou.

Fonte:ALC (02.07.2012)

A pergunta que mudou a trajetória de José Míguez Bonino - por Roberto Zwetsch



"Onde está o centro de tua vida?" - perguntou-se em oração o estudante de Medicina que, ao responder-se, deixou para trás os livros de anatomia para enveredar-se pela teologia.

As igrejas cristãs e a teologia latino-americana acabam de se despedir de um de seus teólogos mais influentes, coerente e sábio. No dia 30 de junho faleceu, na cidade de Buenos Aires, o teólogo, pastor, professor, pai, irmão de fé e de luta José Míguez Bonino. Tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, ouvi-lo em algumas oportunidades e, mais recentemente, escrever sobre sua teologia da missão, uma das veias de sua longa trajetória teológica e de fé que estava latente na sua obra e que pude resgatar e apresentar a ele com muita alegria. José Míguez ainda pôde conhecer o que escrevi e aprovar, mesmo enfrentando dias difíceis após a enfermidade que o acometeu nos últimos anos.

Com um misto de tristeza e saudade, de reconhecimento e gratidão, gostaria de compartilhar algo do que aprendi com este estudioso das Escrituras, da vida e da realidade latino-americana. Creio que a obra teológica de José Míguez Bonino ainda será revisitada por muito tempo em nossa Pátria Grande, por sua pertinácia, argúcia e senso de realidade da parte de quem conheceu em profundidade a vida e a história das igrejas da América Latina, tanto no que diz respeito às igrejas evangélicas quanto à Igreja Católica Romana. Ele foi um dos poucos evangélicos que participou das reuniões do Concílio Vaticano II (1962-1965), tornando-se testemunha ocular da importância daquele concílio ecumênico para o mundo católico romano, mas também para todo o mundo cristão na primeira parte dos anos de 1960.

José Míguez Bonino nasceu em Santa Fé, Argentina, em 5 de março de 1924. Sua mãe, de origem piemontesa, de quem recebeu o nome Bonino, converteu-se ao evangelho escutando as pregações do missionário metodista Juan Thompson. O pai, um trabalhador portuário, galego, chegou à Argentina em 1900, e foi empregado de uma companhia inglesa de importação. Conheceu a família da esposa no trabalho e foi ela, como narra José Míguez, que o conduziu à fé. Em Buenos Aires, congregaram-se na Igreja Metodista. Mudaram-se para Rosário, onde por algum tempo frequentaram a Igreja Batista. Depois foram viver em Santa Fé, onde retornaram à Igreja Metodista.

José Míguez nasceu e cresceu nesse ambiente de uma família de trabalhadores muito ativa na igreja. Adulto, tornou-se um dos teólogos latino-americanos de maior prestígio por sua coerência teológica, agudez de espírito, produção intelectual e vivência da fé em meio aos conflitos e esperanças que caracterizaram a história da América Latina e, nela particularmente, a história do protestantismo na segunda metade do século XX.

Sobre sua infância e adolescência, José Míguez relembrava com gratidão a vivência “ecumênica” experimentada no seio familiar, pois, dizia, nunca em sua casa assistiu qualquer discussão sobre diferenças entre as igrejas nas quais a família participou. Eram evangélicos e isso bastava. Pai e mãe falavam de seus pastores e amigos considerando a todos de forma igual. Eram ecumênicos sem o saber, escreveu Míguez Bonino. Isso ficou gravado na memória do menino, que só foi batizado aos 12 anos. Após completar o ensino médio, por influência paterna, iniciou a Faculdade de Medicina. Seu coração, porém, estava em outra parte. Gostava de lecionar. Também praticava esportes, o futebol dentre eles, e chegou a conquistar prêmios em competições de atletismo.

Após concluir o segundo ano de medicina, viu-se confrontado com uma pergunta que mudou o rumo de sua vida: “Onde está o centro de tua vida?” E a resposta o constrangeu: “no serviço do Senhor”. Na tarde de um verão sem nada de especial, sentado no pátio da casa, decidiu, em oração, mas sem arroubos espirituais, enveredar pelo caminho da teologia e a preparação para o ministério da igreja. Nessa época, já havia noivado com Noemí, sua futura esposa. Quando comunicou ao pai a decisão, recebeu seu apoio, mesmo ponderando que talvez pudesse ser, no futuro, “um médico missionário”.

O sogro, pregador da Igreja dos Irmãos Livres, advertiu-o sobre os sacrifícios que essa decisão poderia trazer. Mas também o apoiou, abrindo a casa para o jovem casal, durante o tempo em que o genro estudou na Faculdade Evangélica de Teologia, em Buenos Aires (1943-1947). Em 1945, no meio do curso, fez seu ano de inserção prática na Bolívia, numa feliz coincidência: o missionário de uma congregação devia passar um ano nos EUA. Ele foi convidado a substituí-lo junto com uma atividade docente na Escola Metodista de Cochabamba. Mais tarde escreveu que aquele foi “seu curso intensivo em realidade latino-americana”, pois teve oportunidade de conhecer a realidade indígena no país vizinho, a pobreza e o sincretismo do povo, sua música e dança, que aconteciam todos os fins de semana debaixo da janela do seu quarto.

Nos estudos teológicos, sentiu-se desde cedo atraído pelos estudos bíblicos e da história. A teologia sistemática de tendência liberal lhe parecia inconsistente. Acabou enveredando pelos estudos bíblicos, pela história contemporânea da igreja e a teologia ecumênica, além de aprofundar-se no diálogo com as ideologias e a luta pelos direitos humanos.

Foi nessa época que conheceu a teologia de Karl Barth, o teólogo da Teologia Dialética, trazida da Europa por pastores reformados franceses que vieram lecionar em Buenos Aires, como o Dr. Foster Stockwell. Barth e a teologia dialética ajudaram esses estudantes a integrar as preocupações sociais, a crítica ideológica e a fé evangélica. Mais tarde, a contribuição de Paul Tillich e dos irmãos H. Richard e Reinhold Niebuhr, o testemunho e martírio de Dietrich Bonhoeffer, a teologia ecumênica de Visser’t Hooft, primeiro secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), além de sua participação em eventos ecumênicos como o I Encontro Ecumênico do Pós-Guerra, numa conferência de juventude celebrada na Noruega em 1945, irão repercutir positivamente na sua teologia, que se tornou radicalmente evangélica e ecumênica, ao mesmo tempo.

Casou-se com Noemí em 1947 e desse matrimônio nasceram três filhos: Néstor, Eduardo e Daniel. Depois de escrever a tese de licenciatura sobre o debate entre Lutero e Erasmo (na qual Lutero saiu vencedor, “ao menos nos meus papéis”, como escreveu posteriormente com fina ironia), o jovem pastor foi enviado à congregação metodista de San Rafael, Mendoza, ao pé dos Andes. Nessa cidade reencontrou-se com um pastor batista que conhecera no tempo de estudante e com ele iniciou uma parceria evangelística e de aprofundamento bíblico. Ambos decidiram oferecer às suas congregações e pessoas interessadas breves seminários sobre “Bíblia e Sociedade”, discorrendo sobre temas candentes da época. Essas aulas lhes abriram a oportunidade para longas conversas com todo tipo de gente, desde fundamentalistas, cristãos moderados até socialistas e agnósticos.

Míguez Bonino contou sobre este período: “Estava convencido de que, se íamos levar a sério a evangelização, (esta) não podia ser tarefa do pastor somente, mas de toda a congregação, pessoal e coletivamente. E isso significava oferecer uma sólida formação bíblica desde a Escola Dominical e dali em diante”.

Outro meio que dinamizou seu ministério foi um programa dominical na rádio da cidade. Nele, o pastor procurava relacionar a “fé evangélica aos fatos da vida cotidiana da cidade e do país”. Ocorre que não demorou muito para que as autoridades sugerissem ao gerente da rádio que “poderia haver programas melhores para este horário”, o que significou que o programa foi sumariamente suspenso.  Assim acontece quando se relaciona de forma coerente o evangelho com a vida das pessoas.

Mais tarde, relembrando esses anos de ministério, Míguez Bonino afirmou que neles adquiriu as convicções fundamentais de toda a sua vida. Essas convicções ele as levou para o ensino teológico. Desde os anos de 1950, tornou-se professor na Faculdade Evangélica de Teologia de Buenos Aires. Fez os estudos de doutorado no Union Theological Seminary, de Nova Iorque, concluído em 1960, defendendo tese sobre o tema Escritura e Tradição no pensamento católico e protestante.

Depois de retornar a Buenos Aires, tornou-se reitor da Faculdade Evangélica de Teologia que acabou se associando à Faculdade Luterana de Teologia, surgindo dessa união o atual Instituto Universitário ISEDET. Participou de várias instituições ecumênicas como ASIT – Associação de Seminários e Instituições Teológicas, ISAL – Igreja e Sociedade na América Latina, CETELA – Comunidade de Educação Teológica Ecumênica Latino-Americana e Caribenha, FTL – Fraternidade Teológica Latino-Americana, CLAI – Conselho Latino-Americano de Igrejas. Em 1975, foi eleito como um dos presidentes do CMI. Sua liderança e contribuição à causa ecumênica na América Latina, confirmada mais de uma vez durante sua longa vida, são um testemunho que marcou a segunda metade do século XX no cristianismo latino-americano.

Mas uma área em que a contribuição de Míguez Bonino mais se tornou decisiva foi na teologia. Hoje em dia poucos se dão conta que a Teologia da Libertação na origem foi uma teologia ecumênica, elaborado a muitas mãos e mentes, e a partir de referenciais evangélicos que moviam corações e mentes de teólogos tanto evangélicos quanto católico-romanos. Quando em 2012 se estará lembrando os 40 anos da Teologia da Libertação, é importante registrar este lado ecumênico tão importante para o desenvolvimento da teologia na América Latina.

Não por acaso muitos dos teólogos e teólogas dos inícios são procedentes de diferentes igrejas evangélicas. Podemos citar alguns dos mais conhecidos: Rubem Alves, Julio de Santa Ana, Elsa Tamez, Beatriz Melano Couch, Milton Schwantes, e o próprio José Míguez Bonino. Ele foi um dos primeiros teólogos protestantes a apresentar a teologia da libertação para um amplo público ecumênico de fala inglesa, ao escrever o livro Doing Theology in a Revolutionary Situation, publicado em 1974, na Filadélfia, EUA.

Devido ao golpe militar perpetrado contra o governo civil na Argentina em 1976, a versão em espanhol foi publicada na Espanha, pelo Editorial Sígueme, em 1977, com o título La fe en busca de eficacia: una interpretación de la reflexión teológica latinoamericana de liberación. Este livro foi traduzido ao português apenas em 1987 e publicado pela Editora Sinodal, de São Leopoldo, com o mesmo título da edição espanhola.

Um marco em sua vida pública foi seu compromisso evangélico e como cidadão na defesa de pessoas perseguidas durante a ditadura militar argentina. Por isso, ajudou a fundar a Assembleia Permanente dos Direitos Humanos em seu país. Nunca soube refugiar-se numa falsa neutralidade, o que lhe valeu não poucos dissabores. Mas também amizades profundas. Contou ele que certa vez, na saída de uma das reuniões da Assembleia, no período obscuro da ditadura, não pôde evitar dizer a um de seus amigos comunistas: “Boa noite, dom Jaime, que Deus o bendiga”. O amigo o mirou confundido, mas logo, sério e visivelmente comovido, replicou: “Sim, José, que Deus nos bendiga”. E continuou a ser um militante comunista.

A preocupação sociopolítica, que o acompanhou por toda a vida, levou-o a ser eleito, em 1994, como membro independente (isto é, sem vínculo partidário, o que não aconteceu no caso brasileiro!) da Convenção Nacional Constituinte que reformulou a Constituição da Argentina pós-ditadura. Numa avaliação, Míguez Bonino afirmou que ele e seus companheiros e companheiras conseguiram bem menos do que esperavam da nova Constituição, mas que essa experiência só reafirmou a luta pela vida e pela justiça, as quais desafiam permanentemente a fé e o compromisso cristãos. Sem se afastar do ministério pastoral, onde quer que tenha atuado, conseguiu durante mais de 50 anos de vida ativa aliar a docência ao pastorado, algo raro entre teólogos acadêmicos. Ele testemunhou de forma lapidar sobre suas convicções mais arraigadas, ao comemorar 80 anos e ser homenageado por ex-alunos e toda a comunidade acadêmica do ISEDET, de Buenos Aires, dizendo:

- A missão é o privilégio e a responsabilidade de todo o povo de Deus, a missão e a responsabilidade “ecumênica” de todo o povo de Deus, a missão é o anúncio e o tornar presente o Reino de Deus, o Reino do shalom (paz), da tsedaqah (justiça), da hesed(bondade, amor)  – por parte de todo o povo de Deus.

Para Míguez Bonino, como um teólogo fiel e arraigado no seu tempo e situação, a missão do evangelho é o sentido maior da vida cristã e da tarefa teológica. Em sua reflexão foi ficando cada vez mais claro que a obediência da fé deve se expressar na vivência do amor eficaz. Não por acaso, um dos livros que li ainda durante o curso de teologia tinha por título: Ama y haz lo que quieras (1972) (Ama e faça o que queres),uma citação de Agostinho que ele soube atualizar como poucos para a vida no contexto latino-americano.

Num de seus últimos livros,Rostos do protestantismo latino-americano,traduzido ao português pela Editora Sinodal (2003), Míguez Bonino propõe criticamente ao mundo evangélico uma “evangelização a partir de baixo”, o que significa valorizar as experiências religiosas dos setores populares, mas sob a chave interpretativa da teologia da trindade. Por isso ele defendeu uma cristologia pneumática, uma cristologia relida desde a ação atual do Espírito Santo. Escreveu ele: “uma teologia trinitária tentará ver e ouvir o que o Espírito do Senhor – o Jesus Cristo presente – opera na fé desses setores populares para atualizar a unidade da Palavra eterna da criação, da carne histórica de Jesus Cristo e da experiência da fé do povo”.

É essa mesma teologia que permitirá às igrejas cristãs, em particular às igrejas evangélicas, recuperar na sua caminhada de missão e evangelização a tradição profética que Jesus assumiu e reclamou para si. Num contexto de tantas injustiças sociais, tanta confusão teológica e práticas cristãs mesquinhas, é essa tradição profética que poderá desafiar as igrejas, comunidades e cada pessoa de fé a se engajar nas lutas por libertação de todas as formas de escravidão e por um ambiente ecologicamente preservado e humanamente habitável. Que a teologia e o testemunho de José Míguez Bonino continuem a repercutir por toda a América Latina por muito tempo.

Roberto E. Zwetsch é doutor em Teologia, docente da Faculdades EST, de São Leopoldo, Brasil.

Fonte: ALC (03.07.2012)

Furto de patrimônio religioso preocupa Igreja Católica de Honduras



Mais de 200 peças foram furtadas de templos católicos localizados em sítios arqueológicos, como Copán, onde também se encontram as sepulturas maias. Religiosos pedem que autoridades protejam o patrimônio cultural do país.

Honduras é um dos países que mais sofre depredação do seu patrimônio artístico-religioso, indica a "lista vermelha" elaborada pela Polícia Internacional (Interpol). Traficantes estrangeiros furtam objetos de valor arqueológico e histórico e os levam para a Guatemala, México e Estados Unidos.

A impunidade é um grande incentivo a esse tipo de delito, aponta a Interpol, responsabilizando o governo federal pelas facilidades que os traficantes de objetos de arte encontram nas fronteiras do país.

Entre os furtos registrados este ano estão 110 peças da época pré-colombiana confeccionadas em jade, osso, conchas marinhas, cerâmica, pedra e ouro. Tais peças encontram-se em templos sem grande proteção.

Relatórios da Promotoria de Etnias e Patrimônio Cultural de Honduras indicam que de 2010 até a data atual o organismo recebeu 101 denúncias de violações contra o patrimônio cultural da nação, sem que tenham sido resolvidas, o que se deve pela lentidão dos processos judiciais e a falta de pessoal especializado para tratar desse tipo de delito.

O Ministério Público reportou nos últimos meses furtos de objetos patrimoniais das igrejas católicas de Comayagua, Candelaria, Lempira, Taulabé, Santa Bárbara e Curarén.

Fonte: ALC (03.07.2012)

Metodistas crescem e têm metas para 2027



Com 1.038 templos, 373 congregações e 400 pontos missionários, a Igreja Metodista do Brasil contabiliou 214,7 mil membros, segundo levantamento oficial realizado em 2010 e agora divulgado. Há 20 anos, a membresia somava 80 mil seguidores, alcançando na primeira década deste século um crescimento de 268,19%.

Os números desse crescimento são creditados ao Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista, introduzido em 1982, e ao discipulado, entendido como um modo de ser, um estilo de vida pessoal e comunitário e uma forma de pastoreio.

Muitos pastores Brasil afora, divulgou o portal da igreja, desenvolveram estratégias de aprofundamento bíblico e doutrinário dos membros.

A Igreja Metodista está dividida, administrativamente, em seis Regiões Eclesiásticas e duas áreas missionárias. A maior concentração de metodistas encontra-se na Região Sudeste e a menor na Região Norte do país.

Até 2027, a Igreja Metodista quer contar com uma Região Eclesiástica nos 26 Estados da Federação e no Distrito Federal.

Fonte: ALC (04.07.2012)

Nasce no Ceará associação de combate ao preconceito religioso



Sentindo-se perseguido depois que foi desligado da associação religiosa das Testemunhas de Jeová, o servidor público da Universidade Federal do Ceará, Sebastião Ramos, decidiu criar a Associação Brasileira de Apoio a Vítimas de Preconceito Religioso (Abravipre).

A entidade foi reconhecida juridicamente no dia 13 de junho. Ela tem por objetivo acolher vítimas de discriminação religiosa e promover a laicidade efetiva do Estado. A associação promete apoio jurídico e psicológico a qualquer vítima de preconceito religioso praticado por pessoas ou instituições.

Sebastião lamentou o ostracismo e a discriminação que foi vítima depois de sair da congregação das Testemunhas de Jeová. Passou a ser ignorado, contou, por pessoas que eram companheiras na fé e até mesmo pelos familiares que continuam acompanhando esse credo.

Abravipre denuncia que "pessoas em precárias condições financeiras, desvalidas emocionalmente, são incentivadas a se desfazer de seus já parcos recursos em favor de igrejas que todo tipo de bem-aventurança prometem em troca de dinheiro ou bens, enquanto se locupletam, amealhando fortunas à custa da credibilidade pública".

Ser pastor ou bispo converteu-se, antes de tudo, numa próspera carreira, "um atalho para fazer fortuna pessoal", diz o texto da entidade. A associação entende que educação é a melhor proteção contra abuso religioso e por isso se propôs a produzir materiais educativos que abordam o assunto.

Fonte: ALC (06.07.2012)