domingo, 11 de março de 2012

Aliança quase santa na política do Rio de Janeiro

Na política brasileira, ferrenhos inimigos históricos sempre podem apresentar uma recaída e saírem abraçados com aqueles que ontem combatiam. Atendem, ao menos, o princípio cristão da reconciliação. É o que está em andamento no Rio de Janeiro com os ex-hostilizados Cesar Maia, três vezes prefeito da cidade, e Anthony Garotinho, ex-governador do Estado.

Filhos dos dois velhos políticos – Rodrigo Maia e Clarissa Garotinho – devem formar a chapa DEM-PR (Democrata e Partido da República) para a disputa da prefeitura do Rio de Janeiro. Rodrigo para prefeito, Clarissa para vice.

Cesar Maia nunca recorreu a recursos religiosos nas suas campanhas políticas. “Somos um partido historicamente liberal na economia e, em relação aos valores, conservador, convergente com as ideias do PR do Garotinho”, declarou Rodrigo Maia à repórter Luciana Nunes Leal, de O Estado de São Paulo.

“Ninguém está fazendo campanha para papa ou bispo, a campanha é para prefeito. Não vai ser o principal, mas as temáticas religiosas vão estar presentes”, assegurou Garotinho à repórter.

É mais um indício da anunciada “guerra santa” nas eleições municipais deste ano. Embora não seja uma massa homogênea, evangélicos ganham mais força no cenário político nacional. A presidenta da República, Dilma Rousseff, chamou o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, senador Marcelo Crivela, para assumir a pasta da Pesca e Aquicultura, numa tentativa de neutralizar a oposição de evangélicos ao seu governo e aos candidatos do Partido dos Trabalhadores.

Manifestações de líderes evangélicos quando da convocação de Crivela ao Ministério da Pesca deixa evidente que não existe um posicionamento de grupo no campo político. “Achar que evangélicos vão ficar satisfeitos porque têm um deles no governo comandando o inexpressivo Ministério da Pesca é risível”, reagiu um dos líderes da bancada evangélica no Congresso, o deputado federal Eduardo Cunha, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro do Rio de Janeiro.

“Não adianta colocar evangélico no Ministério. Não vamos dar refresco ao Haddad (ex-ministro da Educação no governo Lula e Dilma) em São Paulo com o kit gay (material que seria distribuído nas escolas públicas sobre sexualidade humana)”, prometeu o pastor Silas Malafaia, da Assembléia de Deus.

Mas evangélicos, e conservadores católicos, votam em bloco quando o assunto envolve questões morais, como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e relações homoafetivas. Em questões de direitos individuais, via de regra parlamentares evangélicos não têm agido de acordo com programas dos seus partidos, “legalmente constituídos e pelos quais foram eleitos, mas sim pelas orientações religiosas a que professam”, constatou o jornalista Felipe Severo, da Revista Viés.

A Frente Parlamentar Evangélica cresceu de 46 para 68 deputados nas eleições de 2010, um aumento de quase 50% de um pleito a outro. A maioria dos deputados evangélicos, que representam 13,2% do total, é oriunda da Assembléia de Deus. Se todos militassem num só partido, seria a terceira força no Congresso, ficando apenas atrás do PT e do PMDB.

Fonte: ALC (12.03.2012)

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