terça-feira, 6 de março de 2012

Governo Dilma busca aproximação com evangélicos

Preparando-se para a “guerra santa” prevista para as eleições municipais deste ano, a presidenta da República, Dilma Rousseff, convidou o senador Marcelo Crivella, 54 anos, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) eleito pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB), para capitanear o Ministério da Pesca e Aquicultura. Crivella assumiu o cargo na sexta-feira, 2 de março.

Na posse, Dilma Rousseff defendeu a política de coalizão do governo. “A constituição de alianças políticas é fundamental para que o Brasil seja administrado, governado de forma democrática e, ao mesmo tempo, que o governo represente os interesses da nação”, disse. Ela destacou que a entrada de Crivella no governo é o reconhecimento da importância do PRB, partido do ex-presidente José Alencar, na coalizão que dá sustentação ao governo federal.

Oposicionistas não perderam a oportunidade de criticar a escolha. “O governo resolveu pôr na Pesca um pescador de almas, que ainda não vai andar sobre as águas”, alfinetou o senador Cristovam Buarque, do Partido Democrático Trabalhista.

A inclusão de Crivella no governo é uma tentativa de aplacar a ira de setores conservadores, da bancada evangélica ao movimento carismático católico. O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, admitiu que a escolha de Crivella tem por objetivo, também, ampliar o diálogo com o setor evangélico. O próprio Carvalho, um ex-seminarista vinculado à Igreja Católica, entrou em rota de coalizão com os evangélicos ao afirmar, no Fórum Social de Porto Alegre, no final de janeiro, que o Estado deveria entrar numa disputa ideológica pela “nova classe média”, que estaria sob a hegemonia dos evangélicos.

Evangélicos reagiram com veemência à escolha de Eleonara Menicucci de Oliveira, que cuida da pasta de Políticas para Mulheres. Feminista e defensora do aborto, Eleonara assegurou que seguirá as diretrizes do governo nesse assunto. Enquanto candidata, Dilma Rousseff, pressionada pelos conservadores, definiu em carta à nação que não encaminharia, se eleita, qualquer proposta de liberalização do aborto. O Brasil foi cobrado, recentemente, pela Organização das Nações Unidas por causa da morte anual de 200 mil mulheres vítimas de abortos de risco.

Candidato à prefeitura de São Paulo com as bênçãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, catalisa uma forte rejeição de evangélicos e católicos conservadores porque, enquanto titular da pasta, tentou distribuir o que ficou popularmente conhecido como kits anti-homofobia nas escolas públicas do país.

Por pressão de evangélicos e católicos, a distribuição foi sustada, mas aproveitada em cursos de formação de professores. Em sua defesa, Haddad lembrou que o kit anti-homofobia surgiu de uma emenda parlamentar e que a sua distribuição nas escolas foi suspensa por causa da reação de setores das igrejas.

Sobrinho do bispo Edir Macedo, líder da IURD, Crivella frisou que é indicado pelo PRB para assumir a pasta da Pesca “não da bancada evangélica”. No Senado, o novo ministro tentou impedir a aprovação da proposta que facilitou o divórcio no país e criticou, de modo ferrenho, as propostas de liberalização do aborto e à união homossexual.

Em entrevista, antes de assumir o ministério da Pesca, Crivella assinalou que não sabia como se coloca uma minhoca no anzol. “Colocar a minhoca no anzol se aprende fácil. O difícil é aprender a pensar nos outros”, declarou.

Ele defendeu, na posse, a ampliação dos projetos de pesquisa para o setor, a geração de novos empregos, a duplicação do consumo per capital de pescado no país e a formação de pessoas qualificadas para atuarem no setor. A estimativa é que a produção pesqueira do Brasil chegue a 700 mil toneladas em 2012.

Fonte: ALC (05.03.2012)

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